Caminho da Levada do Salão
Inicialmente vereda e só
permitindo o trânsito de peões, com o crescimento do núcleo
populacional local e a necessidade de usufruir do conformo advindo
da viação motorizada, a população cedo sentiu a necessidade do
alargamento da vereda por forma a permitir o trânsito automóvel. A
ideia terá sido amadurecida durante vários anos e, em meados da
primeira década do século XXI, meteu mãos à obra e, por sua
iniciativa e com a promessa de apoio por parte da Câmara Municipal,
iniciou as respectivas obras. Contudo, com o passar do tempo várias
dificuldades viriam a se interpor na concretização do objectivo
inicialmente traçado e a obra viria a ficar parada durante vários
anos, pese o facto de, por várias vezes a sua conclusão ter
sido agendada pela Câmara. Não raras vezes esta obra foi também alvo
de visita por parte dos partidos da oposição que invariávelmente
apontavam culpas à Câmara por nunca ter sido concluída.
Em Fevereiro de 2008, a Câmara Municipal de Câmara de Lobos,
segundo a imprensa, havia deliberadolançar concurso para a conclusão da Levada do Salão,
muito provavelmente referindo-se a este caminho [Diário
de Notícias, 23-02-2008].
Em Dezembro de 2008, a propósito
de um empréstimo a contrarir pela autarquia, a construção do caminho
da Levada do Sal~~ao surge como uma das obras previstas para serem
realizadas [Diário de Notícias, 12 de Outubro de 2008], o que não
impediu, alguns dias depois a CDU acusasse
a Câmara de se esquecer da população residente na Levada do Salão,
acrescentando que as pessoas viviam há três anos no meio da poeira e
do lameiro, porque a Câmara Municipal, pura e simplesmente, se havia
esquecido daquelas populações [Jornal da Madeira, 22-12-2008].
Em Janeiro de 2009, a imprensa
numa entrevista com Arlindo Gomes, descreve com algum pormenor o
historial deste caminho e a tentativa para nesse ano concluir a sua
construção:
A população começou a alargar a vereda, mas alguns
desentendimentos fizeram com que a obra no Caminho da Levada do
Salão, na Ribeira da Alforra, em Câmara de Lobos, ficasse parada e
esquecida durante três anos. A Câmara Municipal de Câmara de Lobos
decidiu intervir, apesar de a obra não constar no programa. As
máquinas foram para o terreno esta semana, para felicidade da
população que está cansada de apanhar com o pó.
«Esperamos que desta seja de vez. Depois de três anos a apanhar com
pó, esperemos que a estrada seja acabada». Foi o desabafo de uma das
mulheres que comprava o pão junto a uma carrinha de distribuição no
Caminho da Levada do Salão, na Ribeira da Alforra, em Câmara de
Lobos. Antes era uma vereda, mas como são muitas as famílias que ali
vivem, a população decidiu meter mãos à obra e construir a estrada.
Uns disponibilizaram o terreno, outros deram dinheiro, tudo para que
o carro fosse até à porta. Uma grande parte da estrada está
construída, mas alguns desentendimentos fizeram com que esta obra
popular parasse. A estrada ficou três anos em terra batida, com
grandes buracos, fazendo desesperar quem por ali vive. «Nem podemos
pôr a roupa a secar na rua, nem abrir as janelas para arejar a casa,
fica tudo castanho de pó», comentou uma senhora com uma casa junto à
estrada.
A autarquia de Câmara de Lobos, atenta ao problema, decidiu intervir
e abriu concurso para uma obra que nem consta do programa, nem de
governo, nem da autarquia.
Confrontado sobre a situação, Arlindo Gomes, explicou que na altura
em que a população queria construir a estrada a autarquia ainda
disponibilizou meios técnicos, só que «dificilmente chegariam a
concluir uma coisa que viesse servir aquela população». Daí que foi
feito um projecto e lançado concurso para a finalização da obra. As
máquinas foram para o terreno esta semana, para felicidade da
população. Assim, em vez de um alargamento, passou-se a construir
uma estrada com saneamento básico e que em princípio terá ligação ao
Caminho do Terço. Para essa possibilidade, é preciso demolir uma
casa, mas só se houver acordo. Aliás, a estrada está a ser feita com
a compreensão da população, porque se fosse para fazer uma rua
normal muitas casas teriam que ser demolidas. Arlindo Gomes espera
ter esta obra pronta até final do ano, ou na melhor das hipóteses,
até final do mandato. A conclusão da obra custa 350 mil euros
[Jornal da Madeira, 30-01-2009].
Contudo, é provavel que após as
promessas do presidente da Câmara, a obra terá voltado a parar, uma
vez que no dia 28 de Abril de 2009, moradores no caminho municipal
da Levada do Salão, em Câmara de Lobos, marcaram presença na
Assembleia Municipal para exigir explicações ao presidente da Câmara
por causa de uma obra inacabada, pedindo a Arlindo Gomes a
continuidade da obra conforme o '1º projecto'. Em resposta, o
autarca assegurou que o caminho em zona de forte implantação de
residência, só continua se houver entendimento entre os visados
[Diário de Notícias On-line, 28 de Abril 2009, às 13:53].
Em Junho de 2009, a coligação política CDU acusava a Câmara
de ter abandonado a população servida por esta via de comunicação,
uma vez que, apesar de permitir a acessibilidade, não oferecia as
condições necessárias à cirulação e se encontrava por concluir havia
mais de 5 anos[Diário Cidade, 22 de Junho de 2009].
Em Abril e em Julho de 2009 surgem notícias dando conta que
a construção deste caminho estaria
em curso [Jornal da
Madeira, 24 de Abril de 2009, Jornal da Madeira, 27 de Julho de
2009].
Em Dezembro de 2009, a CDU volta
a trazer para a discussão pública este tema, para defender que o próximo orçamento municipal deveria
ser “um orçamento real, virado para as necessidades das
populações”, salientando, entre outras, a necessidade de ter em
conta este caminho da que, teria sido aberto havia oito
anos e continuava intransitável [Jornal da Madeira, 4 de Dezembro de
2009].
A propósito deste caminho e da promessa feita pela autarquia à
população local, mas nunca cumprida, em Julho de 2010, o líder do Movimento Partido da
Terra na Madeira (MPT/M) consideraria inadmissível o adiamento na
conclusão desta estrada uma vez que o facto de estar inacabada causava
enormes transtornos às pessoas e no caso da referida estrada ainda
mais, porque já estava aberta há alguns anos e havia sido iniciada
com a colaboração da população local que além de ter dado os terrenos,
também havia disponibilizado a mão-de-obra. A promessa da autarquia era a
de contribuir com os materiais de construção, que acabou por
acontecer, e, no final, asfaltar a estrada que tem pouco mais de 700
metros de extensão.
No entanto, adiantava que a antiga vereda havia sido alargada há cinco anos, os muros
de suporte já haviam sido construídos, mas a estrada continuava em
terra, dificultando a vida às dezenas de famílias que lá viviam e desesperavam
por uma solução.
João Isidoro lembraria que a autarquia de Câmara de Lobos
havia-se comprometido a finalizar a estrada até onde estava aberta, dado que
o projecto inicial era de que a estrada iria ligar ao Caminho do
Terço, mas nada disso havia acontecido.
O líder do MPT/M realçaria ainda que o orçamento para alcatroar a
estrada já estava atribuído há mais tempo e que «a
autarquia não podia refugiar-se sistematicamente nos acontecimentos
do dia 20 de Fevereiro para dizer que esta ou aquela obra não
avança, porque no caso desta, o dinheiro já estava previsto»,
sublinhou [Jornal da Madeira, 15-07-2010].
Em Dezembro de 2010, apesar da
redução da despesa, o Município de Câmara de Lobos prometeu retomar,
em 2011, o investimento em grandes obras, depois de durante este ano
apenas terem sido feitos pequenos investimentos e entre outras obras
inclui o o caminho da Levada do Salão [Diário de Notícias, 15 de
Dezembro de 2010]
Na sua sessão de 20 de Julho de 2011, a Câmara Municipal viria,
finalmente, a
deliberar abrir concurso para a construção deste caminho [VIVA -
Câmara de Lobos, Agosto/Setembro/Outubro de 2011].
A título de curiosidade e
desconhecen-se se alguma parte do troço corresponde à vereda do
Salão
é curioso recordar que a propósito da ligação viária do Ribeiro da
Alforra, Terço e Limoeiro, em 1891, António Gonçalves do sítio do
Caminho Grande e Ribeira d'Alforra surge a requerer à Câmara
Municipal que fosse incluída no plano geral de viação a vereda
que da estrada real, no sítio do Pico do Rato, se dirige ao sítio do
Terço, estrada n.º 165, pelo sítio dos corregãos, limoeiro e Ribeiro
d'alforra[Livro de Vereações da CMCL, 12 de Novembro de
1891].
Em 1910,
surge um outro requerimento assinado, muito provavelmente pelo mesmo
António Gonçalves e de por outros todos residentes ao sítio do
Caminho Grande e Ribeiro de Alforra, pedindo à Câmara a inclusão no
seu mapa de viação a vereda que da estrada distrital n.º 23, abaixo
do quilómetro 11, no sítio do Caminho Grande e Preces, vai ter à
estrada municipal n.º 165 que da Cruz da Caldeira vem ao sítio da
Terra Chã, passando pelos sítios do Limoeiro e Córrego, por ser no
dizer dos requerentes um melhoramento de grande utilidade[CMCL,
livro de vereações, 30 de Junho de 1910].
Em
resposta a este pedido, o Reverendo Vigário de Câmara de Lobos,
informando na qualidade de presidente (nato) da Junta de Paróquia de
Câmara de Lobos, a quem a Câmara Municipal havia pedido um parecer
refere que é de necessidade ser incluído no mapa de viação a
vereda do bairro do Caminho Grande e Ribeiro de Alforra que passa
pelo sítio do Limoeiro e Córrego
[CMCL, Livro de vereações, 10 de Agosto de 1910].
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