Capela de Nossa Senhora do Bom
Sucesso

A
capela da invocação de Nossa senhora do Bom Sucesso, foi construída
no sítio do Garachico, freguesia do Estreito de Câmara de Lobos,
no lugar conhecido por Eira de Jorge de Vaz, por Manuel João
Ferreira, proprietário da localidade e destinada à prestação de
serviços religiosas à comunidade, por parte de seu filho Francisco
Luís Ferreira que havia sido ordenado sacerdote.
Contudo,
posteriormente, por falta deste, a ermida ficou sem serviço e em
poucos anos estava em ruínas.
Em
1777 Caetano Luís de Faria, procedeu à sua reedificação, tendo
para o efeito, celebrado em lugar em Câmara de Lobos, perante o notário
José de Gouveia, a escritura de dotação da capela de Nossa
Senhora do Bom Sucesso com uma fazenda situada na Ribeira da Caixa
partilhando ao Norte com herdeiros de Caetano Luís de Faria, Leste
com Francisco Gomes, o Guincho, Oeste com fazenda do doutor João
António Rodrigues Garcês [1].
Em
1778, a capela estaria reconstruída e a 23 de Maio, teria lugar a
respectiva vistoria.
«Vista
a Escritura do dote posta pelo dotador Caetano Luís de Faria à
capela com o título de Nossa Senhora do Bom Sucesso, havemos a dito
propriedade por obrigada ao dote de quatro mil reis em cada ano in
perpetuum, para a Fábrica, reparo e ornamentos da dita capela
para que sempre ande bem asseada e preparada, a qual havemos por
erecta com o dito título de Nossa Senhora do Bom Sucesso e feita a
vistoria na capela, se passe comissão ao Reverendo Vigário da
freguesia do Estreito de Câmara de Lobos para benzer o altar na
forma do ritual do Exmo. Padre Paulo V e juntamente se passe outro
sim licença para se dizer Missa na dita capela depois de ter a
benção referida; com cláusula de ficar sujeita à nossa Jurisdição
Ordinária; para nela podermos dizer o que for justo. Outrossim
com cláusula de se não impedir ouvir Missa nela aos fiéis que
quiserem e sem prejuízo do direito paroquial. Como também se não
poderão impedir aos sacerdotes que tiverem esta devoção nem ao
reverendo pároco quando lhe parecer e for preciso...Funchal, 23
de Maio de 1778»
.
No
mês seguinte, conforme alvará da Câmara Eclesiástica do Funchal,
datado de 10 de Junho desse ano, terá sido dada autorização ao pároco
da paróquia de Nossa Senhora da Graça, padre Manuel Borges da
Alemanha, para proceder à sua bênção, o que vem a acontecer no
dia 14 de Junho de 1778 [2].
O
facto dos actos religiosos aí realizados, sob responsabilidade do pároco
do Estreito, serem muito concorridos por pessoas não só do
Garachico e da Furneira, paroquianos do Estreito, mas também dos vários
sítios vizinhos, pertencentes à freguesia de Câmara de Lobos, fez
com que o pároco de Câmara de Lobos, não satisfeito com este
facto, levantasse a questão da localização da capela e a sua
jurisdição. Em consequência disso, no dia 14 de Julho de 1807,
foi efectuada ao local, uma vistoria presidida pelo Dr. Juiz do
Tribunal Eclesiástico e onde após ouvidas as pessoas mais antigas
da localidade, foi declarada a capela como ficando na partilha das
duas freguesias - Estreito e Câmara de Lobos - mas que por ter sido
construída em terra da freguesia do Estreito, deveria continuar
filial da matriz de Nossa Senhora da Graça desta freguesia.
Auto
da vistoria, exame e determinação a respeito da capela de Nossa
Senhora do Bom Sucesso, sita no Garachico, freguesia de Nossa
Senhora da Graça por ordem do Illmo. e Reverendíssimo Leão,
Governador do Bispado da forma seguinte: «Ano do nascimento de
Nosso Senhor Jesus Cristo de mil oitocentos e sete aos catorze
dias do mês da Julho do dito ano, achando-se no sítio do
Garachico, onde está situada a Capela de Nossa Senhora do Bom Sucesso
desta freguesia do Estreito de Câmara de Lobos, estando aí
presente o mui reverendo Dr. Juiz dos Resíduos, confrarias e fábrica
das Igrejas deste Bispado, em virtude da Comissão retro, Luís
António da Vaz Rocha, depois de precedida a vistoria exame e
averiguação
a respeito da controvérsia, de direito, a qual das freguesias
pertence a dita capela de Nossa Senhora do Bom Sucesso se à de Câmara
de Lobos se à do Estreito de Câmara de Lobos, depois de tomadas as
informações necessárias, chamadas para esse efeito, pessoas
antigas e fidedignas, sendo presentes os reverendos párocos das
duas freguesias, o Reverendo Tomás de Aquino e o Reverendo José
Fernandes de Andrade de comum acordo se decidiu que a dita capela de
Nossa Senhora do Bom Sucesso, sita em Garachico, onde chamam a casa
do Jorge Vaz, partilha das duas freguesias, se acha edificada toda
em terra da dita freguesia do Estreito de Câmara de Lobos e que em
consequência se deve contemplar filial da matriz de Nossa Senhora
da Graça da mesma freguesia, ficasse, sem entrar mais em dúvida,
a qual das duas deveria pertencer, e isto em virtude da dita
vistoria... Mandou o dito reverendo ministro fazer este auto e
termo da declaração e consentimento que assinará com os mesmos
ditos reverendos vigários. Determinando outrossim que este
requerimento, despacho e auto de vistoria, termo de divisão, se
lance nos livros de Provimentos actuais das ditas freguesias, para
em todo tempo constar, e depois remetido o próprio à Câmara
Eclesiástica para se juntar aos próprios e competentes autos da
Instituição a erecção da dita capela de Nossa Senhora do Bom
Sucesso pelo que se mandou lavrar este termo, retro ut supra...
Eu
o Padre António de Abreu Macedo escrivão eleito pelo dito
ministro o escrevi. 15 de Julho de 1807» [3].
Esta
situação de certa rivalidade ou conflito viria a perdurar no tempo
e segundo o Diário da Madeira de 15 de Agosto de 1929, ao
referir-se a esta capela diria que ela havia sido edificada entre o
Estreito e a freguesia de Câmara de Lobos, sendo o altar no
Estreito e o corpo em Câmara de Lobos e que por tal facto, desde
tempos imemoráveis haviam pretensões mal cabidas entre os
habitantes do Garachico de Dentro (Estreito) e Garachico de Fora (Câmara
de Lobos).
Uma
notícia publicada em 26 de Julho de 1904 informando que no decurso
dessa semana iria ser benzida a capela de Nossa Senhora do Bom
Sucesso, no Estreito de Câmara de Lobos, a confirmar-se a
veracidade desta notícia, leva-nos a admitir que por esta altura a
capela teria sido alvo de importantes melhoramentos ou mesmo
reedificação [4].
A esta capela encontra-se associado o assassinato do padre Joaquim
André dos Santos Passos ocorrido no dia 22 de Maio de 1927[5].
Após ter celebrado a missa dominical foi barbaramente assassinado
por um indivíduo, a quem havia recusado casar, em segundas núpcias,
pelo facto da sua primeira mulher, com quem havia casado segundo o
ritual da igreja católica, ainda se encontrar viva.
No
dia 1 de Janeiro de 1961, em consequência da criação da paróquia
do Garachico, passou esta capela a servir de sua sede paroquial e,
em 1963, seria destruída para dar lugar à construção da actual
igreja, ou seja de um templo mais amplo e mais adequado às
necessidades da nova paróquia.
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