Capela de Nossa Senhora da Consolação

Também
conhecida por capela do Fôro, a capela de Nossa Senhora da
Consolação foi construída no ano de 1684 e situa-se no sítio do Fôro,
na freguesia do Jardim da Serra. Foi seu primeiro orago Nossa
Senhora do Socorro, mudando posteriormente, para o actual, em data e
circunstâncias que se desconhece. Pelo meio ficam também referências
à invocação de São Tiago, como seu orago. Os festejos em sua honra
têm lugar no dia 1 de Novembro de cada ano. Numa alusão à grande
quantidade de pêros de produção local que apareciam por esta altura
à venda, esta festividade chegou em tempos, a ser conhecida por
festa do pêro.
A Capela de
Nossa Senhora da Consolação
foi edificada no ano de 1684 por Mónica Ferreira d’Aguiar, segunda
mulher de Gonçalo de Faria Leal, dando cumprimento à vontade de seu
marido, falecido a 12 de Abril de 1683, e expressa em testamento
lavrado a folhas sessenta e seis verso do livro de óbitos número 352
da freguesia do Estreito de Câmara de Lobos. De acordo com este
testamento, deveria ser construída, uma ermida, logo após a sua morte
com a invocação de Nossa Senhora do Socorro, devendo ser dotada de uma
pensão anual de 12 mil reis para um capelão que deveria rezar missa
todos os domingos e dias santos, por sua alma e de seus defuntos.
Anualmente deveria, ainda, ser feita, com rendimentos provenientes da
fazenda, uma festa, com sermão e missa cantada, em honra da Senhora do
Socorro.
A autorização
de culto
O alvará permitindo o seu culto data de 7 de Novembro de 1684 e foi
passado por D. Estevão Brioso de Figueiredo a "Monica de Aguiar
viúva de Gonçalo de Faria Leal moradora nos pomares da freguesia de Nª
S.ª da Graça do Estreito de Câmara de Lobos mais de duas léguas desta
cidade" fazendo saber ao Bispo do Funchal "que no codicilo com que
falecera o dito seu marido, que oferecia, mandava se fizesse uma
Ermida da Invocação de Nª Sª do Socorro com Capelão perpetuo de dizer
Missa todos os Domingos e dias Santos per sua alma, e de seus
defuntos, obrigando para isso os rendimentos de suas fazendas que
importam mais de dez mil cruzados do que instituíra Morgado; e porque
a Ermida estava de todo acabada com seu sino, e todo o mais ornato e
decência para nela se poder dizer Missa, e pelo detrimento do roim
caminho e longe que podia ter o nosso Reverendo Provisor, e Vigário
Geral em ir fazer nela vistoria, nos pedia lhe mandássemos fizesse a
dita vistoria, e não podemos ir fazê-la a fizesse o Padre Vigário
Manoel da Fonseca...lhe mandamos passar Alvará de erecção de Altar" O
codicilo referido consta das notas do Tabelião Ignacio de Gouveia
Barcelos da freguesia de Câmara de Lobos, e por ele aprovado em os
três dias de Dezembro do ano de mil seiscentos e oitenta e dois que
ficou nos Cartórios da Câmara (Eclesiástica)" .
À altura da sua morte, Gonçalo de Faria Leal, não tinha descendentes
directos, motivo porque, no testamento que faz, estipula que a sua
fazenda não poderia ser vendida nem alienada e que após a morte de sua
mulher, deveria ficar na posse de Gaspar Moniz de Meneses, filho de
seus sobrinhos Pedro Moniz de Meneses e de Ana Ferreira de Aguiar,
casados na Sé, no ano de 1672. Gaspar Moniz de Meneses casaria, em
Câmara de Lobos, no ano de 1700, com D. Catarina de Veloso de Castelo
Branco. Deste casamento nasceu Francisca Moniz de Meneses que em 8 de
Maio de 1713 casou com Sancho Bernardo de Herédia, filho de D. João de
Herédia e bisneto de D. António da Herédia, fidalgo de raça castelhana
e que herdaria a posse das terras e capela.
A capela do
Fôro e os Herédias
Posteriormente, a posse das terras e capela passam para seu filho D.
Sancho Gaspar (de Brito Leal) Herédia, nascido a 5 de Outubro de 1721.
Do seu casamento, realizado no Funchal, com D. Ana Margarida
Betencourt e Sá Vilela Acciaoli, filha do morgado Diogo Betencourt da
Câmara Vilela e de D. Antónia Basília Acciaioli Vasconcelos nasceu D.
José de Brito Leal Herédia. José de Brito foi fidalgo escudeiro,
herdou os morgados de seus pais e casou com sua prima D. Antónia
Esmeraldo Vilela, filha herdeira de Diogo João Bettencourt Vilela.
Desta união nasceria a herdeira do morgado, D. Antónia, que casou com
D. António de Sandanha Gama, conde do Porto Santo.
Deste casamento não houve descendência directa, motivo porque a todos
os bens do conde do Porto Santo, entre eles as suas propriedades do
Estreito passam para Francisco Correia Herédia, filho de D. Francisca
e do capitão Francisco Moniz de Aragão e Melo e sobrinho materno de D.
José de Brito.
A compra da
capela aos Herédias
Por volta de 1850, Francisco Pinto Correia, regressado da ilha de
Demerara, onde casara com Jesuína Cândida Correia e onde arranjara
fortuna, adquire por 12.000 contos de reis, os bens dos Herédias no
Estreito de Câmara de Lobos, o que incluía as propriedades do Fôro e
Quinta de Santo António, com as suas duas capelas.
Vivendo numa sua quinta situada no Funchal, Francisco Pinto Correia ao
que parece só se deslocava ao Estreito por ocasião das colheitas.
Em 6 de Maio de 1881, por ocasião da morte de Jesuína Cândida Correia,
de acordo com a relação de bens licitados e que passaram a pertencer
ao viúvo, encontra-se a capela nesta altura referida com a invocação
de São Tiago.
Francisco Pinto Correia terá falecido a 11 de Agosto de 1889 e na
relação de bens com data de 26 de Outubro do mesmo ano, a capela
aparece referenciada como tendo a invocação de Nossa Senhora da
Consolação e passa a ser propriedade de Deolinda Correia, filha do seu
segundo casamento, com Luisa Augusta de Ornelas.
Deolinda Correia faleceria, no Luso a 3 de Março de 1908, revertendo
os seus bens em favor de sua mãe, que após a morte do seu marido terá
ido viver para Lisboa. Na relação de bens, deixada após a morte de
Deolinda Correia, a capela continua a aparecer referenciada como sendo
da invocação de Nossa Senhora da Consolação.
No dia 28 de Agosto de 1912 Luisa Augusta Correia e sua filha Gabriela
Olga Correia vendem a propriedade a 43 indivíduos, na sua maioria
colonos, ficando a capela, adro e casa que servia de sacristia a
pertencer a todos os compradores na proporção das suas entradas para o
preço da compra.
Uma vez que parece nunca ter havido cedência desta capela à Diocese, a
sua propriedade, apesar de, em termos legais pertencer em cada
momento, aos detentores dos terrenos vendidos por D. Luisa Augusta
Correia, a verdade é que ela é considerada como sendo pertença da
população da localidade.
A
reconstrução da capela
Ainda que em data anterior a 1881, Francisco Pinto Correia tivesse
efectuado importantes reparações na capela, em 1950, ela encontrava-se
em estado de ruína, pelo que o padre José Porfírio Figueira, pároco da
paróquia de Nossa Senhora da Graça, inicia os primeiros esforços com
vista à sua reparação e que se traduziram numa angariação, nas zonas
circunvizinhas, dos meios financeiros necessários, fase que se haveria
de prolongar até Dezembro de 1961.
Em 1960, as obras de recuperação da capela são iniciadas e
prolongam-se até 1961. No entanto, verificando-se que as suas paredes
devido às características dos materiais utilizados (pedra mole
amassada com terra) não ofereciam segurança, foi esta totalmente
demolida e no seu local erigida uma outra de maiores dimensões,
mantendo como elementos da primitiva capela unicamente as cantarias da
porta principal e da cruz da cumeeira.
No dia 1 de Janeiro de 1961, a capela do Foro é elevada à categoria de
sede da, na altura, recém criada paróquia de São Tiago, tendo sido seu
primeiro pároco, o padre José Porfírio Figueira que exerceu tais
funções em acumulação com as de pároco da paróquia de Nossa Senhora da
Graça até ao dia 30 de Setembro de 1962. Entre finais de 1965 e no
decurso de 1966, construiu-se um anexo à capela, um pequeno salão.
Manuel Pedro
Freitas
In Jornal da Madeira, 13
de Setembro de 1998
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