Caminho
de São João
Situa-se na freguesia
de Câmara de Lobos, estendendo-se entre o lugar denominado de Salão
e a Estrada João Gonçalves Zarco, nas proximidades do nó
da via rápida Funchal-Ribeira Brava. Nas suas proximidades e, com
acesso através dela, encontra-se a capela de Jesus Maria José,
mais conhecida, no entanto, por capela de São João.
O caminho de São
João é constituído, na sua maior extensão por
um segmento da antiga estrada real 25, que ligava o Funchal a São
Vicente, passando pelas freguesias de Câmara de Lobos e do Estreito
de Câmara de Lobos.
Iniciando-se no lugar
do Salão, nas proximidades do limite das freguesias do Estreito
e de Câmara de Lobos, o caminho de São João é
um dos ramos, em que se bifurca a rua Prof. José Joaquim da Costa,
depois de um trajecto iniciado no largo do Patim, freguesia do Estreito
de Câmara de Lobos. Até ao momento da construção
do troço até Câmara de Lobos, da via rápida
Funchal - Ribeira Brava, terminava este caminho na estrada João
Gonçalves Zarco, sobre a ponte dos Frades. Contudo, a construção
desta via rápida viria a seccioná-lo a alguns metros da sua
extremidade final, obrigando-o a um pequeno desvio e a terminar igualmente
na Estrada João Gonçalves Zarco, mas no nó de acesso
à via rápida.
O trânsito automóvel
Apesar da sua largura
não permitir mais do que uma faixa de rodagem, tal como acontece
com a rua Prof. José Joaquim da Costa e o outro ramo em que esta
se divide e denominado de caminho da Bela Vista, o caminho de São
João possui um trânsito assinalável. Este facto está
naturalmente relacionado com o bom piso que desde 1994/1995 apresenta e
com o facto da distância entre o centro da freguesia do Estreito
e a via rápida ficar substancialmente encurtada.
Idealizado numa época
em que o automóvel ainda estava longe de surgir, a sua adaptação
a este tipo de trânsito só muito tardiamente haveria de acontecer,
provavelmente só na década de 50. Para isso, foi necessário
retirar os degraus, então existentes, na zona de passagem dos rodados
dos automóveis e rebaixá-los na parte central, por forma
a também continuar a permitir o trânsito de pessoas e evitar
que estas escorregassem, dada a inclinação do caminho.
Este facto naturalmente
não era impeditivo que antes, condutores mais aventureiros fizessem
circular um ou outro automóvel. A este propósito, é
digno registar que o primeiro automóvel que chegou ao centro da
freguesia do Estreito, foi em 1914 e fê-lo, trepando as escadas existentes
desde a Ponte dos Frades até à igreja do Estreito e percorrendo
o hoje denominado caminho de São João, este na altura ainda
com o acesso através da Ponte dos Frades e a rua Prof. José
Joaquim da Costa. Naturalmente que neste período, a Estrada João
Gonçalves Zarco ainda não havia chegado à freguesia
do Estreito de Câmara de Lobos, daí ser este o único
trajecto possível.
A origem da denominação
A denominação
de São João por que é popularmente conhecido de longa
data este caminho e que a Câmara Municipal de Câmara de Lobos,
através de uma sua deliberação de 22 de Maio de 1997,
respeitando a tradição popular decidiu manter, tem a ver
com a existência, nas suas proximidades e com acesso para ele, de
uma capela que não sendo de São João, mas de Jesus
Maria José, a população desde tempos remotos se habituou
a conhecê-la dessa forma, pelo facto de ser sede de importante devoção
a este santo.
Aliás, o mesmo
acontece com toda a zona próxima ou envolvente da capela em causa.
Curiosamente, até os seus próprios proprietários ao
pretenderem dar um nome ao solar anexo, para melhor o identificar junto
dos agentes de turismo, dada a sua integração nos circuitos
de turismo da habitação, acabariam também se associarem
a essa tradição e denomina-lo de Quinta de São João,
em vez de Quinta de Jesus Maria José, como seria de fazer supor
e que corresponderia ao orago da sua capela.
A Capela de Jesus Maria
José
Situa-se no sítio
de Jesus Maria José, no caminho de São João, freguesia
de Câmara de Lobos, tendo muito provavelmente, a exemplo do que aconteceu
com outras, o seu orago, Jesus Maria José, ou Sagrada Família,
estando na origem da denominação do sítio onde se
encontra implantada.
Segundo os dados existentes
terá sido esta capela mandada edificar em 1693, por Sebastião
Gonçalves Cordeiro e sua mulher Luzia de Ornelas e, dedicada no
ano seguinte, a Jesus Maria José.
Ainda que não esteja
bem definida a sequência de proprietários que teve, sabe-se
que, em 1856 eram seus proprietários o Capitão Januário
António Ozório de Menezes e sua mulher Inácia Cândida
de Barros. Não tendo descendência, através de um seu
testamento datado de 10 de Agosto desse ano nomeia como herdeiros, seus
sobrinhos Francisco Nunes Pereira de Barros (1819-1902) e José Isidoro
Pereira de Barros, filhos de sua irmã Vicência Lucinda de
Menezes Barros casada com Francisco Nunes Pereira de Barros (1782-1865).
Em 1867, com a morte do Capitão Januário António Ozório
de Menezes, ocorrida a 13 de Fevereiro, a capela passa para a posse de
seu sobrinho Francisco Nunes Pereira de Barros, casado com Luísa
Maria Teresa Figueira de Barros, que depois a transmite a seu filho Francisco
Nunes Pereira de Barros (1863-1942), casado com Alice Georgina Figueira
da Silva.
A este Francisco Nunes
Pereira de Barros, seguiu-se como proprietário da capela e solar
sua filha, Alice Salete de Barros Figueira César, casada com o Dr.
João Augusto Figueira César, que, por sua vez a transmitiria
a seu filho João Augusto de Barros Figueira César, actual
proprietário.
A forma como ela transitou
desde os seus fundadores até Januário António Ozório
de Menezes, filho do Morgado Lúcio Francisco de Barros e de Maria
(Mendonça) Ozório de Menezes permanece desconhecida.
No entanto, tendo Januário
António Ozório de Menezes, nascido, ao que tudo leva a crer
no sítio de Jesus Maria José, pelo menos alguns dos seus
irmãos lá nasceram, não será de excluir que
a capela tivesse também sido propriedade de sua mãe ou de
seus avós maternos João Fidélio Martins e Maria Ozório
Menezes, que ao contrário de seu pai, eram naturais de Câmara
de Lobos.
No início dos anos
40, foi esta capela sujeita a algumas obras de restauro. Ainda que estas
obras se tivessem pautado, na sua generalidade, pela preservação
da sua arquitectura, terá sido, contudo feita uma pequena ampliação
lateral por forma a poder albergar maior número de fiéis.
As festividades em honra
do seu orago, Jesus Maria José, ou mais precisamente em honra da
Sagrada Família, têm lugar no segundo Domingo de Janeiro e
vêm sendo celebradas desde a década de 40, altura em que a
respectiva imagem foi adquirida. Se estas festividades existiam antes,
terão sido em tempos suficientemente recuados para que a transmissão
oral dessa prática se tivesse perdido, ou não chegasse a
ficar registado na memória do seu actual proprietário. Para
além disso, o único símbolo do orago até então
existente era representado pela respectiva pintura gravada no retábulo,
facto que naturalmente seria impeditivo da sua utilização
em procissões como é regra no decurso deste tipo de solenidades.
A tradição
do São João
Esta capela apresenta,
no entanto, uma característica peculiar e que explica, o aparecimento
de São João não só na toponímia local,
como na origem de alguma confusão a propósito do seu orago.
Com efeito, apesar de
não existirem dúvidas de que o seu orago é Jesus Maria
José, esta capela possui uma imagem representativa de São
João Baptista e ali, desde longa data, se celebram grandes festejos
em sua honra, o que atesta a forte devoção da população
das redondezas e explica o facto de São João ter ofuscado
completamente o primitivo orago, até porque durante anos e anos
e, até a década de 40, foi a única festividade celebrada.
Segundo a tradição
popular, esta imagem de São João Baptista teria sido para
ali transportada, tal como aconteceu com um sino e uma pia baptismal, de
uma outra capela existente em Câmara de Lobos com a invocação
de São João, ameaçada de ruína na sequência
de um aluvião e onde a celebração dos festejos em
sua honra assumiam grande significado.
Capela de São
João
Com efeito, folheando
um pouco as páginas da memória histórica camaralobense,
encontramos referências à existência de uma capela em
honra de São João Baptista, no sítio do Serrado da
Adega, e que segundo a tradição, se situaria nas proximidades
da ribeira. Foi esta capela, ao que tudo indica, mandada construir em 1700,
por António Correia Henriques e sua esposa, D. Maria da Câmara,
tendo a sua dotação ocorrido a 17 de Julho do mesmo ano.
Apesar de hoje, não
existir, se desconhecer o local exacto da sua construção
e não se ter encontrado, até ao momento, qualquer referência
escrita relativamente ao momento da ameaça de ruína ou da
sua destruição, calcula-se que terá ocorrido no início
do século XIX.
Na sua edição
de 22 de Dezembro de 1886, o Diário de Notícias refere a
propósito do aluvião ocorrido a 9 de Outubro de 1803 que
em Câmara de Lobos, a Ribeira da Saraiva levou uma ponte de Madeira
e dois casais com sete pessoas e logo abaixo, a cerca, claustros, cozinha,
refeitórios e adega do convento de São Bernardino e de que
só ficaram a igreja e a casa dos Romeiros.
Se, como faz supor a tradição
popular, a capela de São João Baptista se situava à
beira desta ribeira e se é verdadeira a descrição
publicada no Diário de Notícias, com toda esta destruição
verificada, uma pergunta logo se terá de colocar: Que teria acontecido
à capela de São João Baptista? Teria nesta altura
ficado em risco de ruína? Teria sido destruída, mas não
foi referenciada pela descrição? Teria sido destruída
antes? Teria sido destruída depois? Enfim são questões
que, infelizmente, por enquanto, permanecerão no campo da especulação.
Relativamente aos fundadores
da capela de São João, tudo leva a crer que correspondam,
ele, ao filho de João de Bettencourt Correia Henriques e de Antónia
Castel-Branco e nascido em Maio de 1657, e ela, a Maria da Câmara
Val de Veço, filha de Diogo de França de Carvalho e de Margarida
de Sequeira.
A Quinta de São
João
Nas proximidades da capela
de Jesus Maria José, existe um antigo solar que, tal como a capela,
é também propriedade de João Augusto Figueira César
e de sua esposa Cecília Figueira César. Desde 1989/90, foi
adaptada a turismo de habitação e passou a ostentar a denominação
de Quinta de São João, isto naturalmente, por necessidade
de melhor identificar a infra-estrutura hoteleira no circuito turístico
da especialidade.
Ainda que com uma capacidade
diminuta, uma vez que o local serve também de habitação
aos seus proprietários, este empreendimento não só
é o único existente no concelho de Câmara de Lobos,
como foi um dos primeiros com estas características a surgirem na
Madeira.
Ainda que possa ser feito
através do caminho de São João, o seu acesso principal
faz-se a partir do número 496 da Estrada João Gonçalves
Zarco, denominação da antiga Estrada Regional, no seu percurso
pelo interior do concelho de Câmara de Lobos.
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