Castro
Jorge, Dr. António Vitorino de
Era natural do Funchal, onde nasceu à rua de Santa Maria, freguesia
de Santa Maria Maior, a 2 de Novembro de 1913, tendo falecido a 3 de
Dezembro de 2004, aos 91 anos de idade. Era filho de Luís Jorge e de
D. Josefina Antónia de Castro e Jorge.
Casou
em 1944 com D. Matilde Martins da Silva Castro Jorge, de quem teve 3
filhos.
Depois
de concluir o curso do Liceu do Funchal, matriculou-se na faculdade
de Ciências da Universidade de Coimbra onde tirou o 1º ano,
desistindo depois para se matricular na faculdade de Medicina de
Coimbra, acabando posteriormente por se transferir para a Faculdade
de Medicina de Lisboa, onde se licenciou a 28 de Junho de 1938.
Terá
permanecido em Lisboa até 1942, altura em que vem mobilizado para a
Madeira como médico da Marinha. Uma vez na Madeira, ao fim de algum
tempo pede passagem à vida civil, surgindo entretanto o casamento e
uma sua passagem pelo Porto Santo, como Médico Municipal, cargo que
exerceu durante cerca de 6 meses.
A
12 de Julho de 1944 toma posse do lugar de Médico Municipal do
Concelho de Câmara de Lobos, no partido médico das freguesias do
Estreito de Câmara de Lobos e Curral das Freiras, substituindo
nessas funções o Dr. José Sabino de Abreu, que entretanto se
havia reformado. Nestas funções manteve-se até à sua reforma
ocorrida por volta de 1983. A par das suas responsabilidades, como médico
municipal, exerceu até quase completar 90 anos de idade, medicina
privada, como Clínico Geral.
Para
além de médico, o jornalismo interessou-lhe de forma particular,
tendo sido proprietário e Director do Diário da Madeira, Director
do Eco do Funchal, cargo que exerceu entre 15 de Janeiro de 1959 e 5
de Janeiro de 1961 e, ainda durante algum tempo Director do semanário
Zarco, órgão oficial da APAM (Associação Política do Arquipélago
da Madeira), organização de que também foi dirigente e que mais
tarde viria a servir de base à fundação do Partido Democrático
do Atlântico (PDA).
Relativamente
ao Diário da Madeira, o primeiro número tendo o nome do Dr. Castro
Jorge como proprietário e Director surge a 16 de Janeiro de 1961 e
o último a 2 de Julho de 1982, altura em que aproveita para se
despedir dos seus leitores referindo que depois de 25 anos de luta a
bem dos madeirenses havia chegado ao fim, e caso curioso coincidindo
com a inauguração dum monumento ao emigrante.
Também
se interessou pela política, vertente onde tem um percurso de
alguma curiosidade. Com efeito, ainda que não escondendo a sua
admiração por Salazar, admitindo mesmo, em 1992, numa entrevista,
de ser um salazarista convicto [1],
tal não impedia que antes do 25 de Abril de 1974, no seu Diário
denunciasse os erros e criticasse as autoridades por aquilo
que considerava mal, nomeadamente através de rubricas como o
Papagaio e o Giz na Parede.
Depois
do 25 de Abril de 1974 continua no seu Diário da Madeira a defender
os seus ideais e valores políticos e, em consequência de um artigo
intitulado "Com Quem Vivemos", cujo conteúdo foi tido
como independentista, é em 15 de Maio de 1975 preso por ordem do
então Governador Militar da Madeira, Brigadeiro Carlos Azeredo e
depois enviado para a prisão de Caxias.
Um
comunicado do Quartel General do Comando Territorial Independente da
Madeira de 15 de Maio de 1975 [2],
dá conta de que em 10 de Maio de 1975 haviam sido publicados no Diário
da Madeira, três artigos, nomeadamente "Com quem
Vivemos", "Na Madeira Vitória da Social-Democracia",
uma razão para a independência e uma carta inserta na secção
"Correio da Madeira", com tendências contrárias à
unidade nacional e que importava apurar a sua extensão motivo
porque haviam sido detidos os seus autores: António de Castro
Jorge, Cesário Nunes, M. Macedo de Faria e Manuel Rodrigues.
Ao
saber da sua prisão muitos estreitenses ainda se deslocaram ao GAG
2, para pedirem a sua libertação, pretensão que, no entanto, não
seria atendida. Depois de dois meses de prisão o Dr. Castro Jorge
é libertado e volta ao Estreito e, no dia da sua chegada, o povo
presta-lhe uma grande recepção, o que atesta o carinho que lhe
dedicava.
Aliás,
este carinho pelo Dr. Castro Jorge, já se havia feito sentir pelo
menos noutra altura, ou seja em 1955, ainda que por outras razões.
No dia 31 de Maio de 1955, por ocasião da recepção popular que
organizara em honra do então presidente da República General
Craveiro Lopes, na sua passagem pelo Estreito, foi acometido de doença
súbita, situação que o levaria posteriormente à capital, para
tratamento. No seu regresso, em Julho desse ano, foi alvo de uma
importante manifestação de regozijo prestada por parte da população.
Apesar
do acidente de percurso, que foi a sua prisão em Caxias e que ele
próprio afirma ao Diário de Notícias de 2 de Novembro de 1995,
ter sido uma experiência engraçada, não o impediu de continuar a
ter uma intervenção activa na política. Para além de continuar a
escrever no seu Diário, aceita ser nas eleições autárquicas de
1976, candidato à presidência da Câmara Municipal de Câmara de
Lobos, nas listas do CDS - Centro Democrático e Social. Apesar dos
bons resultados obtidos, tendo o partido que representava ganho as
freguesias do Curral das Freiras e Quinta Grande, apenas conseguiu
ser eleito vereador. Apesar de tudo, assume o mandato, mas na sessão
camarária de 1 de Junho de 1978 demite-se, descontente com a forma
como a maioria PSD estava a exercer o cargo. Segundo afirma ao
DN-Revista, em 8 de Março de 1992, cansara-se com o facto do PSD
aproveitar as suas ideias e depois chamá-las deles. A este propósito
no acto da sua demissão refere mesmo numa alusão ao Dr. Alberto João
Jardim de que não era cavalgando no Castro Jorge que o iria
continuar no poder.
Antes
de se comprometer com o CDS, o Dr. Castro Jorge terá chegado, em
1975, a ser abordado pelo próprio Dr. Alberto João Jardim, que se
terá mesmo deslocado a sua casa, convidando-o para integrar as
fileiras do PSD, o que recusou.
A
8 de Dezembro de 1978, conjuntamente com o Dr. Aragão de Freitas,
Ernesto Pestana, Estevão Silva e outros, o Dr. Castro Jorge foi um
dos fundadores do PDA (Partido Democrático do Atlântico), tendo
ocupado a presidência da sua Comissão Instaladora e,
posteriormente, a presidência da sua Direcção.
Ainda
que nos últimos anos se encontre afastado da política activa, não
deixa de continuar a surpreender a opinião pública por alguns dos
seus apadrinhamentos políticos a nível do concelho de Câmara de
Lobos.
Com
efeito, em 1993 vê-mo-lo como mandatário da lista, tida como de
esquerda, de cidadãos Seremos freguesia do Jardim da Serra,
candidata à Junta de Freguesia do Estreito e tendo por objectivo a
criação da freguesia do Jardim da Serra, a partir da desanexação
da parte alta do Estreito de Câmara de Lobos. Em 1997 vê-mo-lo
como mandatário da lista do Partido Socialista, candidata à presidência
da Câmara Municipal de Câmara de Lobos.
Apesar
das suas convicções políticas não hesita em apostar nas pessoas,
mesmo que ideologicamente distantes, se confiar na sua honestidade,
qualidade que era aliás, um dos valores que mais admirava em
Salazar e sobre quem, em 1989, por ocasião do centenário do seu
nascimento, escreveu uma pequena brochura.
Ainda
que no concelho de Câmara de Lobos, o prestígio do Dr. Castro
Jorge se deva à sua actividade como médico, merecendo mesmo o epíteto
de Médico do Povo, o que lhe advém, não só da dedicação com
que exerce a sua profissão, como principalmente à forma gratuita
ou quase que gratuita como a exerce, a verdade é que ele também há
alguns anos atrás esteve ligado a outras importantes iniciativas
locais.
Com
efeito, o seu nome está ligado a importantes iniciativas da
freguesia do Estreito, nomeadamente à criação da festa das
cerejas, à criação da Casa do Povo, à participação de uma
representação da freguesia do Estreito, no desfile das festas das
vindimas realizadas no Funchal, no ano de 1953, à realização,
pela primeira vez, na Madeira, de uma festa dedicada a Santo Isidro,
padroeiro dos animais.
Sobre
o Dr. Castro Jorge, um motorista da Rodoeste de nome Horácio, compôs
algumas quadras populares que por exprimirem o sentir do povo, não
podem passar sem referência.
Nasceu
em Santa Maria Maior
E
para Medicina ele teve jeito
Por
isso consultas veio dar
Para
a freguesia do Estreito
Depois
do 25 de Abril de 1974
Havia
alguém que metia medo
Mandaram
prender o Dr. Castro Jorge
Quem
mandou foi o Brigadeiro Carlos Azeredo
De
qualquer freguesia
Vêm
ao Estreito bater
Vêm
ao Dr. Castro Jorge
Para
ele atender.
No
Dr. Castro Jorge
Vale
a pena esperar
Nunca
deixa ninguém ir para casa
Sem
ele consultar.
O
Doutor Castro Jorge
É
doutor da Freguesia
Atende
sempre as pessoas
Com
um sorriso de alegria.
Com
mais de 80 anos
Ainda
muita gente ele trata
Quando
ele morrer
Muita
gente vai achar falta.
Atende
todas as pessoas
Ele
nunca diz que não
Quando
o Sr. Dr. morrer
Muitos
chorarão.
A
18 de Maio de 1995 ao troço da estrada de acesso ao Jardim da
Serra, compreendido entre a Rua da Igreja, no seu cruzamento com a
Rua Capitão Armando Pinto Correia e o lugar do Calvário é dado o
nome do Dr. António Vitorino de Castro Jorge. Contudo, já
anteriormente, por deliberação de 3 de Setembro de 1987 havia sido
dado o seu nome à rua entre o Largo do Patim e o Largo das
Corticeiras, homenagem que recusou.
Para
além desta rua, o nome do Dr. Castro Jorge, foi também por
deliberação de 18 de Maio de 1995, dado à azinhaga que dá acesso
ao seu consultório e que partindo da Rua Dr. Castro Jorge, acima da
entrada para o Caminho Velho da Marinheira se estende até ao
caminho Calvário - Estaleiro.
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