Estrada do Brasileiro
A estrada do Brasileiro,
estende-se entre o sítio das Fontes, na freguesia do Estreito de
Câmara de Lobos e as Corticeiras, na freguesia do Jardim da Serra e
atravessa as partes altas do sítio das Fontes e o sítio do Cabo do
Podão. Ainda que tivesse havido uma tentativa de a baptizar de Estrada
do Cabo do Podão, acabaria por prevalecer a denominação de Estrada do
Brasileiro, numa alusão ao impulsionador da sua abertura, João
Fernando de Sousa, por alcunha, o brasileiro.
A estrada do Brasileiro, estende-se
entre o sítio das Fontes, na freguesia do Estreito de Câmara de Lobos,
onde se liga com a estrada do Castelejo
[1] e
o sítio das Corticeiras, na freguesia do Jardim da Serra e atravessa
as partes altas do sítio das Fontes e o sítio do Cabo do Podão.
A sua denominação tem a ver com a
alcunha de brasileiro, por que era popularmente conhecido João
Fernando de Sousa, o impulsionador da sua construção.
O brasileiro
Nascido a 17 de Julho de 1938
[2],
no sítio
do Cabo Podão, freguesia do Estreito de Câmara de Lobos e filho de
Agostinho Eduardo de Sousa e de Beatriz Fernandes Dantas, João
Fernando de Sousa emigrou, a 11 de Janeiro de 1955, para o Brasil, em
procura de melhores condições de vida. Este facto, valer-lhe-ia o
epíteto de brasileiro porque passou a ser conhecido, desde a
primeira, das quatro vezes em, que nos dez anos em que esteve emigrado
no Brasil, visitou a sua terra natal.
Árduo trabalho e um pouco de sorte
torná-lo-ia um emigrante bem sucedido e naturalmente que isso não
passaria despercebido aos seus conterrâneos a quando das suas visitas
à Madeira e para o individualizar, nada melhor do que associar o seu
nome à terra onde terá feito alguma fortuna.
Depois de 10 anos no Brasil, João
Fernando de Sousa mudar-se-ia para a Venezuela, onde lá haveria de
permanecer cerca de 30 anos, e onde, tal como no Brasil, se dedicaria
ao comércio. Apesar da sua mudança de país, nunca mais haveria,
contudo, de perder o epíteto de brasileiro porque a população se
habituou a conhecê-lo.
As origens da estrada
As fortes ligações que ao longos
dos vários anos de emigração, conseguiu manter com a sua terra natal e
a possibilidade de um dia regressar de vez, levaram João Fernando de
Sousa a construir uma casa de residência junto àquela que fora de seus
pais, no sítio do Cabo do Podão. Contudo, a sua não acessibilidade ao
trânsito automóvel, leva-o a lutar pela abertura de uma estrada que
lhe passasse próximo
[3].
Ainda que inicialmente, tivesse
pensando em fazer um acesso através do Estreitinho, de custos menos
onerosos, e para a qual tinha promessa de dinheiros de outros
interessados, a abertura da estrada Calvário - Castelejo, faria com
que a opção passasse a ser a construção de uma via de comunicação que
ligasse as Corticeiras a esta estrada, passando junto da sua casa.
Na realidade esta era uma melhor
solução, uma vez que iria atravessar o sítio do Cabo do Podão e parte
altas do sítio das Fontes, beneficiando não só uma importante área
agrícola, mas também populacional.
Nesse sentido, inicia uma série de
contactos, tanto com a Câmara Municipal de Câmara de Lobos, como com
outras entidades político-administrativas regionais.
Apesar dele ser um dos principais
interessados na construção da estrada, a verdade é que se tal desejo
se concretizasse, toda uma importante área agrícola e populacional
viria a ficar beneficiada, facto que certamente terá condicionado a
aceitação, por parte da Câmara Municipal de Câmara de Lobos, da sua
proposta.
Na realidade, depois de alguma
insistência pessoal junto das instâncias de poder, a Câmara Municipal
de Câmara de Lobos, na sua reunião de 14 de Agosto de 1980, viria a
deliberar proceder à abertura de um ramal de caminho municipal a
partir da estrada municipal do Calvário-Castelejo para ligar à zona
das Romeiras (Corticeiras), justificando a iniciativa com base no
facto desta estrada não só vir a servir uma importante área agrícola,
como ter assegurada a comparticipação de um munícipe, isto numa alusão
a João Fernando de Sousa, o brasileiro.
Ainda que seja difícil de
quantificar o peso da intervenção do brasileiro na abertura da
estrada, a verdade é que, por mais pequena que tenha sido, sem ela,
muito provavelmente a estrada nunca viria a ser construída ou se o
fosse, sê-lo-ia só muito mais tarde.
Sabe-se que o brasileiro se
redobrou em esforços para fazer ver às autoridades políticas, a
necessidade e utilidade da sua abertura, sabe-se que o brasileiro
terá andado de porta em porta para conseguir cedências de terrenos
necessários à estrada; sabe-se que o brasileiro terá chegado a
pagar alguns terrenos ou benfeitorias necessárias; sabe-se que dezenas
de pessoas, directa ou indirectamente, relacionado com esta estrada
terão sido recebidos em sua casa; sabe-se que no decurso da abertura
desta estrada, o brasileiro terá não só chegado a orientar
o operador da Caterpiller cedida pela Câmara ou Governo
Regional, no trajecto a seguir, nas obras de terraplanagem, como
servido de bombeiro na resolução de conflitos ocasionais
surgidos na altura em que a máquina entrava nos terrenos para rasgar a
estrada, uma vez que não havia projecto.
A inauguração da terraplanagem
A 27 de Junho de 1983, as obras de
terraplanagem desta estrada estavam concluídas e viriam a ser
visitadas pelo presidente do Governo Regional, Dr. Alberto João Jardim
[4].
Depois da terraplanagem e apesar da
insistência de João Fernando de Sousa, no sentido da sua conclusão, a
estrada haveria de permanecer em terra durante alguns anos.
As obras de pavimentação
Em 1989
[5],
a pavimentação
desta estrada consta do plano de actividades camarárias, sendo a 13 de
Outubro desse ano deliberada a abertura de concurso para a sua
execução, atingindo o montante de 79.950.000$00, a sua base de
licitação.
A inauguração da pavimentação
Orçada em 135 mil contos e
possuindo uma extensão de 2.200 m, esta estrada viria a ser inaugurada
no dia 27 de Setembro de 1991. Ainda que tivesse sido uma obra da
responsabilidade da Câmara Municipal de Câmara de Lobos contou, no
entanto, com apoios comunitários e orientação técnica e fiscalizadora
do GATAL.
Por ocasião da sua inauguração,
apesar de ter havido uma tentativa de dar a este arruamento a
denominação de estrada do Cabo do Podão, como de resto, era patente
pela inscrição a flores feita na altura, no seu pavimento
[6],
a velha denominação de estrada do brasileiro, por que era conhecida
desde o início das obras de terraplanagem,
viria a conseguir sobreviver e, a partir de 1995, acabaria por ficar
institucionalizada, com uma deliberação camarária nesse sentido.
Com efeito, na sua sessão de 18 de
Maio de 1995, a Câmara Municipal de Câmara de Lobos haveria de
deliberar atribuir o nome de estrada do brasileiro à estrada entre as
Fontes e o início da estrada para a Boca dos Namorados, no sítio das
Corticeiras.
Os transportes colectivos
Depois da inauguração da sua
pavimentação, a população local viria a tornar público o seu desejo de
a ver servida de transportes públicos de passageiros, o que só viria a
acontecer anos mais tarde
[7].
[4]
O Diário de Notícias de 28 de Junho de 1983 dá conta da visita de
Alberto João Jardim à obra de terraplanagem da estrada entre os
sítios das Fontes e Cabo do Podão no Estreito de Câmara de Lobos.
[6]
Na ocasião da sua inauguração, o facto de João Fernando de Sousa
se encontrar envolvido num processo judicial, do qual
posteriormente viria a ser declarado inocente, faria com que não
só as autoridades presentes no acto, injustamente, se
distanciassem dele, omitindo o seu papel em todo o processo, como
até alguns sectores da população, beneficiados pela iniciativa de
João Fernando de Sousa, numa atitude reveladora de alguma
ingratidão, tentassem omitir o epíteto de brasileiro que, por
razões óbvias, estava associado a esta estrada, substituindo-o
pela denominação de estrada do Cabo do Podão.
[7]
O Diário de Notícias do dia 27 de Fevereiro de 1992, dá conta das
aspirações da população residente na estrada do Brasileiro,
relativamente à ligação por transportes públicos de passageiros.
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