Festa
das vindimas
A festa das
vindimas, como iniciativa organizada e realizada com objectivos
promocionais surge, na Madeira, pela primeira vez em 1938,
repetindo-se depois em 1953, ano em que encontramos a freguesia do
Estreito de Câmara de Lobos a se fazer representar no respectivo no
cortejo realizado, no Funchal, no dia 20 de Setembro, com três carros
alegóricos: o primeiro com um grande cesto de uvas, o segundo com uma
pipa e alguns objectos de verga, e o terceiro com um pedestal
enfeitado a cedro, tendo no cume um retrato a carvão do Sr. engenheiro
Amaro da Costa e duas quadras alusivas ao mesmo quadro. Neste camião
seguiam alguns produtos da terra, ofertados por pessoas generosas da
freguesia. Entre os carros seguiam os borracheiros cantando canções
apropriadas à época das vindimas e um rancho da freguesia cantando
versos de autoria popular com elogiosas referências às autoridades
administrativas, ao governo da Nação e ao organizador desta romagem, o
Dr. António Vitorino de Castro Jorge, médico na freguesia do Estreito.
Ainda que em 1954 e 1955 tivessem sido organizados no Funchal certames
semelhantes, só em 1963 é que as festas das vindimas, assumem pela
primeira vez o objectivo de promoção turística da Madeira e do seu
vinho, a nível internacional e, por esse facto, passam a ser
organizadas pelas entidades ligadas ao turismo e estruturadas de forma
a melhor cumprirem tais metas. Organizada pela então Delegação de
Turismo da Madeira, na altura presidida pelo prof. José Rafael Bastos
Machado, as festas das vindimas de 1963, realizadas no dia 15 de
Setembro, tiveram como palco a freguesia do Estreito de Câmara de
Lobos e constituíram como que a fase experimental de um cartaz a ser
integrado no conjunto de realização do calendário turístico da
Madeira.
Aliás, no
dia da realização da festa das vindimas, um articulista do Jornal da
Madeira escreveria a propósito das festas das vindimas e do calendário
turístico, o seguinte: No prosseguimento duma sua iniciativa, a
Delegação de Turismo da Madeira leva [...] a efeito nova
edição das «Festas da Vindima», este ano, ao que nos parece,
estruturadas num programa mais convalescido e mais prometedor.
Importa,
sobremaneira, incentivar realizações deste género numa terra de
largas ambições turísticas, integrando-as quanto possível num programa
que, embora mais ou menos flexível, possa constituir o planeamento de
motivos de verdadeira atracção e de autênticos cartazes
propagandísticos. Quer dizer, é preciso, numa correspondência às
exigências heterogéneas do turismo moderno, fazer ajuntar à
propaganda da «Ilha da Madeira», normalmente feita à base do «Sol, do
clima e da paisagem», mais alguma coisa que possa suscitar interesse
e curiosidade. Impõe-se, por isso, a elaboração dum programa de
realizações que possam cifrar o «calendário turístico» da «Pérola do
Atlântico».
E se é
certo que, nesta perspectiva, muita outra iniciativa é necessário
concretizar, não me parece menos certo que, desde já, se deveriam
enquadrar as realizações existentes numa planificação orientada em
ordem a estabelecer, ainda que num carácter transitório ou
improvisado, o tal «calendário turístico» que, em nossa opinião,
importa elaborar. As festas da Primavera, os «Festivais de Música da
Madeira», a «festa da flor», a «Volta à Ilha», as próprias «feiras de
gado» ou «festa do Lavrador», as «romarias típicas da nossa terra», a
«festa da Vindima», as «festas da cidade ou Noite de S. Silvestre»,
estruturadas numa maior preocupação turística, poderiam desde já
constar desse calendário e da respectiva propaganda [...].
A
restituição autêntica do quadro das «Vindimas», com seus cantares, «charambas
e bailhinhos» acompanhados de rajões, machetes e braguinhas,(…) poderá
ser, sem dúvida, um cartaz de interesse turístico.
Vamos a
ver se assim acontece. Se, da nova experiência deste ano, a ocorrer,
hoje, no Estreito de Câmara de Lobas, resultará uma melhor
estruturação das «Festas da Vindima», para que, breve, estas,
integradas no «calendário turístico» da Madeira, mereçam um bonito e
atraente cartaz em todo o Mundo, e não fiquem propagandeadas para os
turista e público, numa simples folha dactilografada, em três línguas,
apresa na vitrine do edifício da Delegação de Turismo da Madeira
[1].
No dia 15 de
Setembro as festas das Vindimas na freguesia do Estreito, começariam
pelas 10:30 com uma missa celebrada na igreja paroquial de Nossa
Senhora da Graça, na qual estiveram presentes as mais altas
individualidades políticas e militares, nomeadamente os Governadores
Civil e Militar.
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Recepção das
autoridades do Distrito no adro da Igreja paroquial |
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Depois do
espectáculo no "passeio" o cortejo alegórico tem início |
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Cortejo
alegórico ao longo da rua da Igreja e largo do Patim |
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Autoridades
aguardam a chegada do cortejo alegórico no largo do Patim |
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Chegada do
cortejo alegórico ao largo do Patim |

Após a
Missa, num estrado colocado no parque da igreja, os grupos folclóricos
da Casa do Povo da Camacha e do Livramento exibiram-se, com agrado
geral da multidão que assistiu aos festejos.
Às 12.50
horas fez-se o desfile do Cortejo da Vindima, mais um número que
despertou grande sucesso. Abria com o Grupo Folclórico da Camacha,
que entoou durante o trajecto marchas alegres. Seguiam-se homens
transportando cestos com uvas e outros com borrachos, fechando com o
Grupo do Livramento
[2].
No
armazém da conceituada firma Veiga França & Ca., no sitio da Igreja,
no Estreito de Câmara de Lobos, cedido gentilmente, assistiu-se ao
funcionamento dos lagares, um primitivo, com homens na repisa das
uvas; e outro, moderno, de manejo automático, que despertaram grande
interesse na comparação dos dois processos.
Num outro
compartimento da magnífica vivenda da firma Veiga França & Cia.,
decorado com motivos regionais e utensílios da indústria e produção
vinícola, procedeu-se à inauguração da exposição de produtos das casas
exportadoras de Vinho da Madeira.
Houve,
durante a exposição, prova de vinho
[...].
No
aprazível parque da «Quinta do Estreito» foi finalmente servido um
almoço regional às entidades oficiais e a todos os convidados que
decorreu em ambiente muito cordial.
Foi
servido vinho branco e tinto regional, produzido na Adega Experimental
de Câmara de Lobos.
No sítio
da Igreja, por sua vez, foi montado um «stand» da Cooperativa do
Grémio da Lavoura, para a venda de vinho regional.
No parque
da Quinta do Estreito exibiram-se durante o almoço os grupos
folclóricos da Camacha e do Livramento, com tanto agrado e entusiasmo
dos assistentes que muitos deles subiram também ao estrado para cantar
e bailar [...].
Pela
tarde e noite adiante, a «Festa da Vindima» prolongou-se, na freguesia
do Estreito de Câmara de Lobos, com a exibição de grupos
folclóricos, da Banda Municipal de Câmara de Lobos, com foguetes e
iluminações, fazendo aquela acolhedora região vinícola viver horas de
grande animação
[3].
Após a sua
realização, todos os comentadores seriam unânimes na apreciação
positiva à festa e consideram-na capaz de constituir um cartaz
turístico. A este propósito, o Jornal da Madeira referiria: Não
negando as possibilidades da «Festa da Vindima», em repetições
futuras, constituir um elemento influente no desenvolvimento da
produção vinícola, não temos dúvida em afirmar que se espera
sobretudo que ela venha a ser mais um ponto de interesse no cartaz
turístico madeirense. Para isso será necessário, evidentemente,
ampliá-la em espaço, em tempo e em realizações. Mas nada disto se
pode fazer sem se juntarem os esforços e os auxílios de todos e
sobretudo sem experiência. Por isso, os festejos deste ano, segundo
afirmou o presidente da Delegação de Turismo há algum tempo, tiveram
de certo modo carácter experimental, servindo sobre tudo para
auscultar as possibilidades reais oferecidas pelo meio e pelas
colaborações no sentido de empreendimentos futuros de muito maior
âmbito.
Pela
forma como decorreram as festas de ontem, julgamos que o resultado da
experiência foi o mais animador possível e que certamente a «Festa da
Vindimas» virá a ser uma tradição madeirense revivida ano a ano, com
crescente esplendor.
Nas suas
máquinas de fotografia e cinema, multas dezenas de turistas
registaram ontem o colorido da vida rural madeirense, no oportunidade
rara de terem ao seu alcance muitos dos mais característicos quadros
do folclore local, numa moldura igualmente característica da paisagem
da ilha e dos seus festejas populares.
Todos os
«décors» tradicionais do arraial madeirense - as ornamentações de
verdura, as bandeiras coloridas, as iluminações, os foguetes e as
bandas - marcaram a sua presença alegre. E para descoberta de olhos
forasteiros, os ranchos folclóricos também vieram com a música,
colorido e as suas trovas ingénuas. Os «borracheiros» e outras figuras
tão características do nosso povo tiveram o seu lugar de destaque no
«cortejo da vindima», espectáculo inteiramente novo para os visitantes
que mereceu também o interesse e o aplauso de todos os madeirenses que
a ele assistiram.
Não há
dúvida que nunca serão em excesso os atractivos que se possam oferecer
ao turista. Ontem, radicou-se a certeza de que os festejas das
vindimas poderão vir a ser um dos de maior interesse
[...][4].
Depois
disso, estas festas, infelizmente, não tiveram a continuidade esperada
e foram mesmo interrompidas, tendo sido reactivadas em 1979 numa
iniciativa dos Serviços de Animação da Direcção Regional de Turismo,
com o objectivo de, por um lado, permitir aos madeirenses a
comemoração da dádiva da natureza chamada "vinho Madeira" e, por
outro, sancionar a abertura de mais uma porta virada para o mercado
turístico mundial
[5].
Ao segundo
dia de festejos desta edição das festas das vindimas, a imprensa
referiria que poderiam vir a constituir, nos próximos anos, o maior
cartaz turístico regional de Verão. O êxito que estava obtendo,
constituía um estimulante teste para aqueles que haviam apostado nesta
nova animação da cidade.
O modo como
o público local e estrangeiro vinha aderindo à realização
da Direcção Regional de Turismo (DRT) havia ultrapassado todas as
expectativas e comprovava que os madeirenses estavam ávidos de
actividades para ocupação dos seus tempos livres, proporcionando-lhes
agradáveis momentos de lazer
[6].
Referindo-se
às festas das vindimas de 1979, João Carlos Abreu, responsável pelos
Serviços de Animação da Direcção Regional de Turismo da Madeira, diria
que tinha valido a pena a DRT ter metido ombros a esta iniciativa,
adiantando ainda que não se compreendia que numa ilha de vinho não
se realizassem festas alusivas às vindimas, tanto mais que elas
constituíram, há anos uma razão forte de animação da cidade. Desta
forma o eng. Ribeiro de Andrade sugeriu-nos que essas se fizessem
integradas num programa de festas que fará parte do calendário
turístico do próximo ano
[7].
Este novo
figurino das festas das vindimas implementado pela Direcção Regional
de Turismo e depois pelo organismo que a substituiu, a Secretaria
Regional de Turismo, envolvia dois pólos de atracção: um no Funchal e
outro na freguesia do Estreito de Câmara de Lobos, onde, para além de
um programa de animação musical, tinha lugar a realização de uma
vindima ao vivo, um cortejo alegórico e uma pisa de uvas.
Enquanto
que em 1963, as festas das vindimas tiveram por palco unicamente a
freguesia do Estreito de Câmara de Lobos, armazéns da firma Veiga
França, o largo do Patim, a rua da Igreja e o Passal da Igreja (antigo
cemitério), onde teve lugar a actuação de grupos folclóricos, as
edições realizadas entre 1979 e 1988 centraram-se na Quinta do
Estreito, onde tinha lugar a apanha da uva e um pequeno arraial,
saindo posteriormente daí um cortejo em direcção ao armazém do Veiga
França onde tinha lugar a pisa das uvas.
Contudo, a
realização da festa das vindimas no Estreito, era quase enegrecida por
chuva, que segundo o povo era consequência de uma praga pedida pela
“menina” Cecília, umas das proprietárias da Quinta e que nunca foi
favorável à sua utilização para esse evento.
Apesar se
ser pura coincidência, a verdade é que após a sua morte, raramente as
festas das vindimas no Estreito tiveram a chuva a prejudicá-la.
Em 1989 as
festividades saiem da Quinta do Estreito para se realizarem no recinto
desportivo da Escola Preparatória e Secundária do Estreito. Apesar
desta transferência resultar num maior espaço, como contrapartida
viria a desvirtuar a iniciativa.
Em 1990 não
se realizaram festividades na freguesia do Estreito motivo porque, na
ocasião Manuel Pedro Silva Freitas, nesse ano eleito para presidente
da Junta de Freguesia do Estreito, teceu fortes críticas à Secretaria
Regional do Turismo uma vez que pretendia transformar tais
festividades num momento de promoção da freguesia.
[...] É
verdade que a festa das vindimas constituiu sempre uma festa para
inglês ver, foi sempre uma festa planeada e executada pelo Funchal e
sempre à margem dos locais. Por outro lado a hora e a duração da sua
realização compatível com o interesse das pessoas a quem se dirigia,
os turistas, o que naturalmente se compreende, nunca atingiu, para
Estreito os ganhos secundários que uma iniciativa deste tipo deveria
trazer. Contudo, também não reclamávamos e aparentemente estávamos
satisfeitos. Tínhamos uma festa para a qual nada nos saía do bolso,
pelo menos em termos de fundos autárquicos, e mais tarde ou mais cedo
poderíamos, com jeito, canalizá-la mais em nosso favor.
Este
ano, infelizmente e quando a Junta de Freguesia do Estreito estava a
estudar o problema no sentido de propor o aproveitamento do certame em
maior beneficio da freguesia, a Secretaria Regional do Turismo decide
cancelá-lo. Independentemente das razões, e que no momento, pouco nos
interessam, aquilo que nos magoa é o facto de, de um momento para
outro e numa altura em que queríamos não só participar mais
activamente neste certame, mas, a par dele criar, também, algumas
iniciativas, o tapete ser-nos retirado e sem nenhum aviso. Ou seja sem
que nos fosse dado tempo para, pelo menos, “salvarmos a honra do
convento”.
É
necessário e urgente reparar as veredas, abrir ou asfaltar estradas,
dotar a população de água potável, e muito trabalho nesse sentido tem
sido feito; mas também é necessário que de forma harmoniosa se pense na
nossa imagem exterior, caso contrário, perderemos definitivamente o
comboio do desenvolvimento e do nosso crescimento, em termos de
riqueza. Por isso é urgente, é necessário reactivar a festa das
vindimas, e apoiar iniciativas que visem a promoção da freguesia a
nível regional, é necessário reactivar o interesse turístico que
algumas das nossas regiões apresentam
[...].
O
Estreito merece esta oportunidade. Acredito que nem a Secretaria do
Turismo nem outras o abandonará e, certamente que, no próximo ano já
será possível beneficiar de apoios para algumas iniciativas que visem
simultaneamente interesses turísticos e locais.
Já agora
uma sugestão: porque não revê a SRTCE a sua posição, relativamente às
festas das vindimas e leva este certame também até ao Estreito, mesmo
que sem o brilhantismo dos anos anteriores
[8].
Na altura o
correspondente do Diário de Notícias viria a também dar conta do
descontentamento dos estreitenses ao referir que a população do
Estreito de Câmara de Lobos e, nomeadamente, o seu órgão
representativo, a Junta de Freguesia, foram apanhados de surpresa,
através de informações veiculadas pela imprensa, de que esta
localidade, ao contrário do que acontece há vários anos, não fará
parte das Festas do Vinho Madeira.
Quanto às
razões tornadas públicas para a não realização das festas das
vindimas, o Diário de Notícias referiria que neste ano não será
possível fazer porque as vindimas foram feitas mais cedo e portanto
como é óbvio, na altura do certame já não haverá uvas na parreira...
A este
propósito adiantava, ainda o Diário de Notícias que opinião
contrária é manifestada pela população do Estreito que julga possível
haver uvas nas parreiras no dia 16. Para tal haveria somente que
preservar alguns cachos na Quinta do Estreito, onde todos os anos
decorrem as manifestações alusivas às vindimas, desde a apanha até ao
lagar, pisa, etc. não faltando os tradicionais borracheiros. Quanto
às uvas para a tradicional pisa seriam fornecidas pela parte alta do
Estreito onde as mesmas ainda se encontram em fase de amadurecimento
mantendo-se assim o cartaz turístico do Estreito de Câmara de Lobos
alusivo às vindimas, até porque esta zona é a principal fornecedora
das uvas para o Vinho Madeira
[9].
Publicaria
ainda o Diário de Notícias o conteúdo de um ofício dirigido pela Junta
de Freguesia do Estreito ao Secretário Regional do Turismo, Cultura e
Emigração:
Na sua
reunião de 5 de Setembro, a Junta de Freguesia, deliberou expressar a
V. Exa. a estranheza bem como lamentar o facto de não ver a freguesia
fazendo parte do programa das Festas das Vindimas. Por tal motivo,
deliberou ainda, solicitar a V. Exa. que reveja a sua posição sobre
este certame e que mesmo sem o brilhantismo dos anos anteriores se
preveja a realização, nesta freguesia, de algumas manifestações
alusivas às Vindimas.
Sendo as
Festas das Vindimas a mais importante manifestação de natureza
cultural e de promoção turística, realizada nesta localidade, o seu
cancelamento condicionará um rude golpe nas suas aspirações
relativamente ao seu desenvolvimento e promoção turística. Além
disso começa a ficar patente, entre a população, a estranheza e o
descontentamento perante esta decisão da Secretaria Regional do
Turismo...»
[10].
Sobre as
festas das vindimas de 1990, o Diário de Notícias ao descrevê-las,
apresenta uma versão completamente relativamente às razões da sua não
realização no Estreito e vindo ao encontro das propostas da Junta de
Freguesia do Estreito promete a sua reestruturação:
Também ao
contrário dos anos anteriores, a festa do Vinho da Madeira não irá até
ao Estreito de Câmara de Lobos, onde era de costume se realizarem aí
as vindimas.
Tal
deve-se ao facto da Secretaria querer implantar a festa naquela
freguesia em moldes completamente diferentes do habitual, para o
próximo ano. «Queremos tornar a “Festa do Vinho Madeira”, também no
Estreito de Câmara de Lobos, um acontecimento dando-lhe maior
qualidade, dignidade e um carácter mais definitivo. Pois, no ano
passado, tivemos de fazer a festa na escola e de ano para ano
teremos de arranjar espaço devido ao número de pessoas que ali
aflui», disse o secretário regional.
Concluindo, Jogo Carlos Abreu afirmou que «esta paragem nas adegas de
São Francisco e no Estreito de Câmara de Lobos, permitirá uma
renovação nas “Festa do Vinho da Madeira”, que servirá igualmente para
uma adaptação das antigas estruturas que dispúnhamos a uma realidade
nova no próximo ano». De acordo com o responsável pelo Turismo,
Cultura e Emigração, «as alterações previstas para 1991 visam melhorar
a qualidade da iniciativa contribuindo para uma maior projecção da
mesma, que constituí já um cartaz promocional da Região»
[11].
Ainda que
em 1990, perante a recusa da Secretaria Regional do Turismo em
realizar as festas das vindimas, tivessem surgido quem fosse de
opinião de que Junta de Freguesia e Câmara Municipal de Câmara de
Lobos, deveriam promover a sua organização, a Junta de Freguesia
opusesse a tal, uma vez que se o fizesse correria o risco de se
substituir à SRTC e dar pretexto para que esta como queria,
abandonasse definitivamente os festejos no Estreito.
Em 1991,
este certame que na freguesia do Estreito envolvia a realização de
apanha de uvas, organização de um cortejo alegórico e pisa e repisa e
animação musical, mas tudo concentrado numa manhã de sábado e sem
trazer qualquer benefício à freguesia, é alvo de uma completa
transformação. A festa passa a ser aproveitada no sentido da promoção
da freguesia, através do seu alargamento primeiramente por três dias e
depois por quatro e são introduzidos outros pólos de atracção, como
mostra de actividades económicas locais, onde naturalmente a
gastronomia assume papel de destaque.
Contudo,
apesar de se ter realizado esta festa, tal viria a correr grandes
riscos em virtude de uma crise verificada ao nível da comercialização
das uvas na freguesia e que viria a motivar uma intervenção do
presidente da Junta de Freguesia do Estreito.
Há cerca
de duas semanas, após ter tido conhecimento de que este ano as
empresas que habitualmente compram o vinho produzido na freguesia do
estreito, não o iriam fazer, advindo dai graves consequências
económico-sociais para os agricultores, alertei pessoalmente e
telefonicamente para o facto, tanto o Instituto do Vinho da Madeira
como a Secretaria Regional da Agricultura e Pescas, expressando
simultaneamente as minhas preocupações. Posteriormente, enviei um
oficio a esse propósito para a própria Secretaria Regional da
Agricultura, do qual dei conhecimento à Câmara, a quem pedi também
intervenção na resolução do problema.
Depois
desta minha intervenção tanto a SRAP como o IVM me asseguraram que o
problema da aquisição dos excedentes, ou seja, daquele vinho que as
empresas compradoras não aceitassem iria ser ultrapassado, devendo o
Governo Regional fazer a sua aquisição.
Perante
esta resposta fiquei, naturalmente, satisfeito. No entanto no passado
dia 5 de Setembro fui alertado pela ocorrência de distúrbios na
empresa Silva Vinhos, casa que neste momento está a adquirir por conta
do governo o excedente de uvas, o que parece revelar que a solução
escolhida não foi convenientemente estudada e adaptada as expectativas
dos agricultores, que nunca, pelo menos nas últimas décadas se viram
confrontados com semelhante problema.
Se é
verdade que se deve apostar na qualidade do vinho, o que implica
simultaneamente apostar na qualidade das uvas, a verdade também é que
os agricultores nunca se viram na necessidade de melhorar essa
qualidade. As empresas que lhes compravam as uvas sempre fecharam os
olhos ao facto de estarem podres ou terem baixo grau, chegando
mesmo algumas vezes a não fazerem caso dele, pagando como se tivesse
10 graus ou pagando como se as uvas tivessem mais 0,5 ou 1 grau. Por
outro lado o governo nunca se preocupou muito em, no terreno elucidar
o agricultor sobre a melhor maneira de cultivar e tratar as suas
vinhas de forma a reduzir a percentagem de apodrecimento e o míldio
das uvas. Além disso incentivou e com razão o cultivo das castas
nobres tendo a freguesia do Estreito beneficiado dos serviços
gratuitos de enxertadores.
Ora,
neste momento depois da campanha feita a favor das castas nobres
depois de até existirem pessoas pagas pelo governo para fazerem
enxertos, os agricultores ao encontrarem dificuldades no escoamento
dos seus produtos, ao verem pela primeira vez as suas uvas sujeitas a
uma escolha com rejeição das que se apresentam em más condições e de
verem o grau do seu vinho baixar para valores nunca antes atingidos,
estão a reagir mal.
Se esta
situação acontece, a verdade e que a culpa não é deles, mas sim de
quem até este momento permitiu e fomentou, devido à ganância de ganhar
clientes à concorrência, este estado de coisas ou seja as empresas
comercializadoras de vinhos. Ao governo caberão também
responsabilidades uma vez que de uma maneira ou de outra fechou os
olhos a tudo isto e acabou por não preparar os agricultores para este
desafio. Mas a revolta dos agricultores ainda é maior porque para
além de se terem empenhado como melhor sabiam, com erros é certo,
despendendo dinheiros na rega na adubação, em insecticidas, etc.,
estão confrontados com um problema que nunca, mas nunca haviam
suspeitado ou que viesse a acontecer. Pois tinham castas boas do tipo
daquelas que o governo andava a propagandear na televisão e que até
pagava os enxertadores e desconheciam que contrariamente à banana,
alguma vez o vinho estivesse em crise. Por isso, a freguesia do
Estreito vive neste momento numa espécie de barril de pólvora, que a
todo o momento se prevê que possa explodir, principalmente se o
problema não é resolvido definitivamente e ao agrado dos agricultores
logo no início da semana que se inicia a 9.
Fala-se
em boicote à festa das vindimas; fala-se em agressões a dirigentes
governamentais que aqui aparecerem a fazer campanha eleitoral,
fala-se em abstenção, etc. e esta onda de ódio, de desespero atinge,
naturalmente um tipo de população que tradicionalmente sempre
demonstrou a sua confiança ao poder instituído.
Estes
dados constituíram novamente minha preocupação, ate porque para além
de correrem muitas desinformações pelo ambiente que se criou, estas
pessoas poderão serem facilmente utilizadas por forças políticas menos
escrupulosas para atingirem fins menos claros. Desta forma, contactei
no dia 6 de Setembro, tanto a SRAP como o IVM expressando novamente as
minhas preocupações, tendo chegado a propor que antes de outros, que o
próprio Governo assumisse a responsabilidade de reunir com os
agricultores explicando-lhes as razões das crise e as soluções
adoptadas. Este facto evitaria a propagação da onda de boatos e faria
com que os agricultores ficassem mais descansados e confiantes na
acção governativa. Naturalmente que na altura chamei a atenção para o
risco desta iniciativa, mas também não esqueci de chamar à atenção
para o risco de serem forças partidárias, com interesses eleitorais, a
o fazerem. A opção foi a do silencio, atitude que, talvez por viver
este problema com alguma ansiedade, não acho a mais correcta. No
entanto não sou político e estas decisões são deles. Não me parece de
muita importância dizer-se que o Presidente da Junta de Freguesia, o
Presidente da Câmara e demais políticos informados da situação,
importa sim que os interessados, os agricultores o estejam.
Encerradas desde o inicio da tarde de sexta feita, as instalações da
Silva Vinhos, abrirão dia nove, ou segundo se diz dia 10 e com a sua
abertura surgirão os problemas. Assim peço-vos uma maior intervenção
na resolução deste problema de forma a que os agricultores não fiquem
prejudicados.
Desta
forma, a se manter esta situação e dado o facto dos agricultores não
terem sido atempadamente, como devia ter acontecido, informados para
as dificuldades que iriam encontrar, sugiro o seguinte:
1.
Imediata auscultação "in loco" por
parte do Governo sobre a opinião dos agricultores de forma a se
inteirar da situação e poder confirmar ou não as minhas preocupações.
2.
Informação correcta dos agricultores
reunindo com eles, com a máxima urgência. Naturalmente que esta
reunião pode realizar-se de forma mais ou menos individual, se for
colocado um placar informativo sugerindo que no caso de terem uvas ou
problemas com o seu escoamento se dirijam à Junta de Freguesia ou a
outro local, onde uma equipa prestará as devidas informações.
3.
Não rejeição das suas uvas mesmo que
sendo de castas nobres a sua qualidade não seja a melhor.
4.
Elevação artificial do grau das uvas,
ou estabelecimento de um preço mínimo justo, para que os agricultores
não recebam menos dinheiro pelas suas uvas negra-mole do que
aconteceria se fosse vinha nova. Curiosamente, para esta uva não
existem problemas de escoamento, apesar de não se ter conhecimento de
que são as casas exportadoras a o adquirir, sabe-se, a exemplo dos
anos anteriores que em maior ou menor grau tal vinho vai lá parar.
5.
Que lhe seja dada a possibilidade de
verificar e confirmar a graduação real do mosto que lhe está a ser
atribuída, uma vez que, em virtude dos hábitos anteriores, julga que
está a ser enganado e constitui outra fonte de discórdia.
6.
Que a fim de proteger o grau, a apanha
das uvas seja condicionada a uma prévia vistoria por parte de alguém
no IVM ou da SRAP.
7.
Que desde já, a fim de evitar
idênticas situações nos próximos anos, sejam programadas acções de
formação sobre o cultivo da vinha e, se crie uma espécie de consultor,
disponível, pelo menos uma vez por semana, nas alturas críticas do
tratamento, de forma a que o agricultor, em caso de dúvida possa
facilmente recorrer. Naturalmente que estas sugestões, a que eu
acrescentaria, ainda a criação de um seguro de colheitas, poderão
estar desajustadas relativamente às defendidas pelos agricultores ou
as pretensões governamentais. Contudo, a se manter a situação que até
ao dia 6 aconteceu, parecem-me lógicas, pelo menos para, a partir
delas, se encontrar uma solução menos penalizante para o agricultor
[12].
Apesar dos problemas registados,
mas prontamente solucionados, as festas das vindimas no Estreito de
Câmara de Lobos, viriam a ganhar um novo figurino mais adequado às
necessidades e anseios da população estreitense. Deixariam de ser uma
"festa para inglês ver" com duração de uma manhã, para se transformar num meio de promoção a nível regional, da freguesia do
Estreito e das suas actividades. Com esse objectivo,
os festejos relativos às festas das vindimas passariam a se prolongar por três dias
e, em 1993, prolongar-se-iam mesmo ao longo de 4 dias. Do programa de
festejos, para além da reserva da manhã de sábado destinada à apanha
de uvas, cortejo alegórico, pisa e repisa, nas tardes e noites tinha
lugar um extenso programa de animação, com folclore e música pop.
Em 1993, diariamente teve lugar pisa e repisa de uvas.
Como palco para o novo figurino das
festas das vindimas na freguesia do Estreito, seria escolhido a rua de
João Augusto de Ornelas, que, a partir de 1991 seria transformada numa
grande alameda, na margem da qual seriam instalados os stands de
mostra de actividades da freguesia e restaurantes. Até 1993 o palco
principal das festas seria instalado no fundo desta "alameda",
enquanto que o palco e lagar destinado à pisa e repisa das uvas seria
instalado no parque infantil localizado no início da rua João Augusto
de Ornelas.
A partir de 1994, ainda que o local
das festas se tivesse mantido inalterado, toda a animação passa a
ficar concentrada no parque infantil que para o efeito acabaria por
ser totalmente destruído, acabando por ser transformado, fora dos
festejos, num parque de estacionamento.
Posteriormente, no decurso de 2004
e 2005, o certame passaria para a Rua das Vinhas, situação que viria
a desvirtuar a iniciativa, voltando contudo, em 2006 ao local de
origem, à rua João Augusto de Ornelas e sendo retomado também o
figurino original.
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