CÂMARA DE LOBOS - DICIONÁRIO COROGRÁFICO

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Mangra

 

Nome porque é popularmente conhecida a doença da vinha provocada pelo oidium tuckeri.

Suspeita‑se que o seu aparecimento na Madeira data de 1851 mas no ano de 1852 é que a doença se propagou e começou a produzir os seus terríveis estragos.

Em Fevereiro de 1851 esteve no Funchal um súbdito francês que, entre a colecção de plantas que vendeu nesta cidade, se encontravam algumas variedades de vinha, colhidas em França em localidades já invadidas pela doença. Supõe um distinto agrónomo que esta tivesse sido a causa da invasão do oldium tuckeri neste arquipélago.

Para nos dar uma ideia aproximada da violência da moléstia e das suas desgraçadas consequências, bastará dizer que a média da produção dos vinhos nos anos de 1849,1850 e 1851 foi de cinquenta mil hectolitros e que no primeiro ano da invasão geral da mangra, em 1852, foi de oito mil, tendo em 1853 baixado a três mil e em 1854 apenas a seiscentos hectolitros. A diferença de 1851 para 1854 é aproximadamente de 80 para 1.

Foi enorme a crise económica produzida em todo o distrito. Não era próspero o estado da ilha, que nessa época contava apenas com a remuneradora cultura da vinha. A cana sacarina cultivava‑se em pequena escala e a banana e outras frutas e também as hortaliças não chegavam para a exportação. As indústrias da manteiga e dos bordados existiam em estado rudimentar e só mais tarde atingiram o desenvolvimento que hoje têm entre nós.

A crise que sucedeu à doença dos vinhedos foi das mais graves que têm assolado este arquipélago. Uma das consequências dela foi a emigração, que em alguns anos atingiu proporções assustadoras. A fome estabeleceu arraiais entre nós com todo o seu cortejo de horrores.

Para acudir a tantos males, mandou o Governo central proceder à construção e reparos de várias estradas, empregando‑se assim alguns centenares de braços, que não tinham ocupação. O governador civil do distrito, por alvará de 22 de Novembro de 1852, nomeou uma grande comissão, encarregada de promover nalguns países estrangeiros uma subscrição e aquisição de donativos, chegando a distribuir socorros no valor de trinta e sete contos e empregando durante seis meses cerca de trezentos homens em cada dia na estrada que liga o Funchal com a vila de Câmara de Lobos [1],[2].


 


[1]    No dia 29 de Julho de 1853 chegou ao Funchal o agrónomo João de Andrade Corvo, que depois foi um dos nossos mais distintos escritores e estadistas. Vinha comissionado pelo Governo central para estudar detidamente a doença que acatara os vinhedos desta ilha e propor as providências que mais eficazmente pudessem debelar as calamidades que então nos assolavam. João de Andrade Corvo demorou‑se dois meses na Madeira e publicou em 1854 uma Interessante memória acerca dos estudos a que procedeu neste arquipélago e que é um trabalho que ainda hoje merece ser lido pelos estudiosos

[2]     Diário da Madeira, 29 de Julho de 1917.

Câmara de Lobos

Dicionário Corográfico
Edição electrónica

Manuel Pedro Freitas

 

Câmara de Lobos, sua gente, história e cultura