A Praia do Vigário
A praia do Vigário situa-se na cidade de Câmara de
Lobos, a sul do largo da República. Nela termina a ribeira do mesmo
nome e que terá dado à praia o epíteto porque é hoje conhecida. Ainda
que, ao olharmos para ela não vejamos mais do que uma pequena extensão
de calhau, interceptada por uma ribeira em cujo leito correm águas de
composição às vezes suspeita e tendo, a norte, uma inestética
estrutura de betão que alberga uns balneários e um restaurante, a
verdade é que a praia do Vigário tem uma história com alguma riqueza.
Com efeito, muita da vida quotidiana da população da hoje cidade de
Câmara de Lobos, nomeadamente da sua classe piscatória, passou por
esta praia e onde haverá a registar actividades como extracção de
areia, lavagem de roupa, preparação de aparelhos de pesca, isto para
além de, ainda hoje, constituir o único local, no concelho, a que a
população pode recorrer na época estival.

A Praia do
Vigário situa-se na cidade de Câmara de Lobos e deve a sua denominação
à ribeira do vigário, que nela tem a sua foz.
Contrariamente
ao que poderá parecer tanto a sua denominação quanto o seu aspecto,
ela encerra um significativo historial.
Para além de
constituir o mais importante espaço do concelho de Câmara de Lobos
reservado a banhistas, esta praia fazia, até finais da década de 60,
princípios da de 70, parte integrante do quotidiano da população
camaralobense e, em particular, da classe piscatória. Preparação dos
aparelhos de pesca, destinada à faina do peixe-espada-preto, lavagem e
secagem de roupa e extracção de areia, destinada à construção civil,
constituíam actividades que diariamente, mobilizavam no local, dezenas
de pessoas.
O lavadouro
da praia do
Vigário

Apesar de hoje
a água correr em todas as habitações, tal nem sempre foi assim e o
recurso à foz da ribeira do vigário, para lavar a roupa, onde a água
antes de tocar no mar fazia pequenas poças, constituiu durante muitos
e muitos anos uma alternativa para quem não dispunha de água
canalizada em casa. Este espaço para além de permitir a lavagem da
roupa, reunia ainda duas outras importantes particularidades com ela
relacionadas: prestava-se para a secagem da roupa lavada, que para o
efeito era cuidadosamente estendida sobre as pedras escaldantes do
calhau e permitia que as crianças, que frequentemente acompanhavam as
mães nessa sua tarefa de lavadeiras, pudessem brincar, sob o seu olhar
atento.
A necessidade
de criar uma infra-estrutura própria para lavagem das roupas, que
possibilitasse a retirada das lavadeiras desde o leito da ribeira,
onde, para além da falta de condições físicas, nem sempre a qualidade
da água era a mais adequada, constituiria, pelo menos desde 1934 uma
preocupação dos responsáveis camarários.
Na realidade,
muitas vezes, na lavagem das roupas, para além de serem utilizadas
águas estagnadas, nalguns casos também com elevado teor de sal,
proveniente da contaminação marítima, a água da ribeira do Vigário, na
ausência de uma rede de esgotos eficaz e de pouco civismo das
populações residentes nas proximidades das suas margens ou dos seus
afluentes, não deixava de conter um significativo nível de poluição.
Em Maio de 1934, a imprensa dá
conta da vontade da Câmara em criar lavadouros públicos nas
proximidades da ribeira do Vigário, aproveitando desta forma a água há
muito perdida. Esta pretensão viria aliás a fazer com que alguém
sugerisse que o mesmo deveria ser feito na ribeira dos Socorridos
[1],
[2].
Contudo, este desejo não viria a ter qualquer evolução prática. Em
1951, a necessidade de construção desta infra-estrutura continua a se
impor e uma vez mais a
Câmara Municipal viria a tornar pública a
vontade em a concretizar
[3],
[4].
Chegou esta obra a constar do plano
de actividades que a Câmara pretenderia ver comparticipada nos anos de
1952 e 1953 ([5])
e, na sessão de 22 de Abril de 1953 chegou a ser presente um projecto
de uns lavadouros para a vila de Câmara de Lobos, elaborados pelo Eng.
Fernando Ribeiro Pereira, e que se presume destinarem-se à praia do
Vigário, tendo a Câmara, na altura, deliberado incluir a sua
construção no plano de actividades para o ano seguinte. Na sua sessão
de 8 de Julho de 1953, a Câmara aprova o projecto e solicita a
comparticipação do Estado para as respectivas obras, vindo
posteriormente a incluí-lo no plano para 1954 e 1955 ([6],[7]).
Contudo, os anos foram passando sem que esta obra pudesse ser
concretizada. Em 1960, a necessidade deste melhoramento volta a
constar dos planos da então vereação camarária que, na sua sessão do
dia 27 de Julho desse ano, não só delibera solicitar à autoridade
marítima autorização para construir um lavadouro na praia do Vigário,
como escolhe João Gonçalves Telmo para elaborar o respectivo projecto,
o que nos leva admitir que o anterior tenha sido abandonado ou se
perdido, uma vez que a Comissão Administrativa, nesta altura era
outra. Este novo projecto é alvo de aprovação em sessão camarária de
10 de Maio de 1961, altura em que também tem lugar o concurso para
adjudicação das respectivas obras. Contudo, o não aparecimento de
candidatos levaria a Câmara, na sua sessão de 24 de Maio de 1961, a
deliberar efectuá-las por administração directa. Em Junho de 1961
[8],
[9],
[10], é deferido, pela Junta Autónoma dos Portos
do Arquipélago da Madeira, o pedido de autorização
antes formulado pela Câmara, no sentido de os construir num espaço de
domínio marítimo, como era a praia do Vigário, facto que terá levado a
que, de imediato, se iniciassem as respectivas obras, uma vez que na
sua sessão de 9 de Agosto desse ano já seriam autorizados pagamentos
as elas destinados.
Estes
lavadouros viriam a ser posteriormente substituídos por outros, mais
resguardados do mar, num pequeno sopé à margem esquerda da foz da
ribeira do Vigário, onde se mantiveram, ainda que nos últimos tempos
desactivados, até à sua destruição parcial ocorrida no dia 29 de
Novembro de 1993, por ocasião de uns temporais ocorridos na Madeira.
Reduto da
Praia do
Vigário
Terá sido,
sensivelmente, nas proximidades do local onde, à margem da ribeira do
Vigário, esteve instalado este último lavadouro que, em tempos mais
remotos, terá existido um reduto de defesa de Câmara de Lobos. Ainda
que Rui Carita nos seus vários escritos, a propósito das defesas da
Madeira, não mencione a existência desta fortificação, o Heráldo da
Madeira, numa reportagem sobre o concelho de Câmara de Lobos, na
sua edição de 2 de Junho de 1907, faz referência a um reduto situado
na margem esquerda
da ribeira do Vigário a que dá o nome de reduto de São Sebastião ([11]).
A este
propósito convirá recordar que o livro de património da Câmara
Municipal de Câmara de Lobos, possui em 1878, a referência, como
propriedade da Câmara, ainda que em mau estado de conservação, de
uma casa térrea no sitio do lugar de Câmara de Lobos, à ribeira do
Vigário que outrora servira de vigia.
Este reduto
viria posteriormente a desaparecer, não só, porque ficou em ruínas,
como em consequência das obras de alargamento, para Oeste, do actual
largo da República.
Extracção de
areia

A extracção de
areia era outra importante actividade exercida na praia do Vigário,
muita da qual era depois transportada em sacas quer para Câmara de
Lobos, quer para o Estreito de Câmara de Lobos e outras freguesias
limítrofes, não só às costas de homens e crianças, mas também através
da utilização de animais, nomeadamente de burros, isto naturalmente
quando as posses dos compradores não permitiam suportar os custos do
automóvel, ou quando este não era acessível ao local do destino da
areia. Um outro importante ponto de extracção de areia, em Câmara de
Lobos, era na foz da ribeira dos Socorridos.
Preparação
dos
aparelhos de
pesca

Sendo a pesca
uma actividade extremamente importante e havendo necessidade de
preparar os denominados aparelhos de pesca, utilizados na faina do
peixe espada, a praia do Vigário, pela sua extensão e desimpedimento,
constituía um espaço privilegiado para tal operação, como de resto
acontecia com o Ilhéu, antes da construção do bairro piscatório.
A preparação
dos aparelhos de pesca envolvia não só a confecção das respectivas
linhas de pesca, como também o seu tratamento por forma a lhes
aumentar a sua consistência e durabilidade.
Primitivamente
esse tratamento era feito com um produto à base de ensaião.
Para o efeito, o ensaião era triturado em pisões de cantaria e
depois aplicado nas linhas, dando-se um aspecto negro. Esta actividade
conhecida por farrobo, era habitualmente exercida por
indivíduos que só a ela se dedicavam e conhecidos por barrobas.
Posteriormente o ensaião viria a ser substituído por uma tinta
própria, técnica que durou até à substituição das linhas de (..) por
nylon
[12].
A tragédia
da praia do Vigário
É aliás, em
consequência de todas estas actividades - pesca, lavagem de roupa e
extracção de areia - e da movimentação de pessoas que elas faziam
deslocar até à praia, que explicam a dimensão atingida por uma
tragédia ocorrida no dia 4 de Março de 1930, que viria a ceifar a vida
a quase duas dezenas de pessoas. Nesse fatídico dia, devido a uma
grande quebrada verificada na costa marítima, próxima do cabo Girão e
que terá entrado pelo mar dentro numa extensão de cerca de 200 a 300
metros, gerar-se-ia, devido à deslocação súbita das águas, uma
gigantesca onda que invadiu a praia e foz da ribeira do Vigário,
levando no seu percurso tudo o que encontrou pela frente, nomeadamente
várias das mulheres que na altura lavavam roupas e os seus filhos que
nas proximidades brincavam.
De acordo com a
imprensa da época, na praia, nessa altura, encontravam-se cerca de 50
pessoas realizando diversas actividades: Numa espécie de lagoa,
mulheres do povo procediam à lavagem de roupa; perto delas, em
diferentes pontos, seus filhos, que como de costume as acompanhavam,
brincavam; alguns homens, entre os quais pescadores, trabalhavam no
aparelhamento de duas canoas que deveriam seguir
para a pesca, outros cultivavam umas pequenas leiras de terra ali
existentes ([13]).
Foram os
pescadores presentes na praia bem como outros dois que se encontravam
no Redondo, hoje largo da República, quem primeiro viram o avanço da
onda e logo deram o sinal de alerta gritando para que as lavadeiras
fugissem.
As pobres
mulheres, dominadas pelo pânico nem tempo tiveram de pensar o que
fazer, nem avaliar o perigo horrível que as ameaçava tão de perto.
Umas correram a agarrar os filhos e outras ainda tentaram salvar as
roupas que tinham estendidas a corar sobre os seixos.
O que se
passou não pode ser descrito, o vagalhão entrou pela foz da ribeira
arrastando todos quantos não tiveram tempo de por-se fora do seu
alcance. Quando a formidável onda desceu, ainda foram vistas entre as
espumas algumas mulheres e crianças por entre destroços vários
([14]).
A propósito
desta tragédia, a veia poética do povo fez eclodir versos, que teriam
a pretensão de a descrever e dos quais foi possível recolher as
seguintes quadras:
Meus
senhores este dístico
Foi uma
história verdadeira
Aconteceu em
Câmara de Lobos
Na nossa
linda Madeira
A quebrada
que caiu
Foi a do
Cabo Girão
Levando
muitos mortos
P'ra capela
da Conceição
Na ribeira
do Vigário
Mulheres,
que roupa lavavam
Surpreendidas pelo mar
Por Nossa
Senhora gritavam
A esta
grande tragédia
Na
terça-feira de Carnaval
Veio a
Câmara de Lobos
A autoridade
do Funchal
Quando esta
notícia chegou
Ao palácio
da fortaleza
Veio o
Governo Civil
Ver esta
grande tristeza
Câmara de
Lobos luto vestia
Como símbolo
das suas dores
No coração
ficou sempre o dia
Em que
perderam os seus amores
A instalação
do
1º serviço
balnear
Constituindo a
praia do Vigário um dos poucos acessos que a população de Câmara de
Lobos possui, é natural que, desde muito cedo, se tornasse um local de
eleição para os banhistas.
Uma das
primeiras referências de que temos conhecimento, relativamente à
necessidade de uma
estrutura de apoio aos banhistas da praia do Vigário, data de 1960 ([15]).
Na sessão camarária de 27 de Abril desse ano, Francisco da Purificação
de Barros e Sousa, na altura vereador, depois de salientar o facto de,
desde há muito tempo, um grande número de munícipes acalentar a
esperança de ver o concelho dotado de uma praia para banhos, viria a
propor que a Câmara adquirisse quatro barracas com dois duches, bem
como todo o material necessário, a fim de as instalar na praia junto
à foz da Ribeira do Vigário.
Na sequência desta proposta,
a Câmara deliberou montar um serviço de apoio a banhistas, fixando em
1$00 o custo por pessoa relativamente à sua utilização. Ao que tudo
indica, já nesse ano a praia do Vigário passaria a contar com estas
infra-estruturas
[16].
No ano seguinte, em 1961, seria construído um reservatório de água com
capacidade para 900 litros a fim de melhor abastecer os duches
existentes
[17].
O 1º
projecto de complexo balnear
Perante o
interesse que o público vinha demonstrando relativamente ao serviço de
apoio balnear montado a título experimental, na praia do Vigário e,
tendo em conta que as barracas na altura existentes na referida praia,
sendo de lona, não se prestavam à utilidade pública necessária, não só
porque a sua conservação se tornava dispendiosa, como também não
ofereciam as condições indispensáveis a um serviço com carácter
definitivo, a Câmara, delibera, a 12 de Junho de 1963 encarregar João
Gonçalves Telmo da elaboração de um projecto para a construção de um
pavilhão balneário.
Este projecto
daria entrada na Câmara a 31 de Agosto desse ano, tendo sido presente
para discussão na sessão camarária de 9 de Outubro de 1963.
De acordo com a
sua memória descritiva, os frequentadores da praia do vigário
utilizavam para mudar de indumentária umas barracas de lona
desmontáveis, que para além de inestéticas nenhumas condições de
comodidade proporcionavam aos utentes.
Como tal, deliberou a Câmara Municipal de Câmara de
Lobos, substituir essas barracas por um pavilhão dotado de
cabines-vestiário, duches e instalações sanitárias, não só
para garantir aos frequentadores da referida praia um mínimo de
comodidade exigíveis, mas também para urbanisticamente melhorar o
local.
A implantação
deste pavilhão balneário ficou prevista para ser efectuada na margem
sul da rua Nova da Praia, devendo assentar sobre uma restinga rochosa
sobranceira à praia, o que para além de diminuir os seus custos,
protegia-o dos temporais marítimos. Na altura, a sua construção
importaria em cerca de 194.000$00. No desejo de poder concretizar o
projecto, a Câmara solicita a 11 de Outubro de 1963, a necessária
autorização à Junta Autónoma dos Portos do Arquipélago da Madeira.
Contudo, devido a problemas burocráticos, só na sua sessão de 5 de
Fevereiro de 1964 é que esta haveria de dar parecer favorável.
O 2º
projecto
de complexo
balnear

Em Julho de
1964, quando eram já ultrapassados os prazos previstos no alvará de
autorização, para a sua construção, a Câmara oficia novamente a Junta
Autónoma dos Portos, solicitando a suspensão provisória das clausulas
do alvará, uma vez que próximo ao local onde estava prevista a
implantação do pavilhão balneário existia uma casa em ruínas, em
péssimo estado, e era vontade da Câmara entrar em contacto com o seu
proprietário a fim de negociar a sua demolição
e, se tal acontecesse, o projecto já aprovado teria de sofrer
alterações ([18]).
Tratava-se de
um prédio situado na rua nova da Praia, sem logradouro, necessitando
de premente demolição, mas onde viviam oito famílias em objecta
promiscuidade e perigo moral e que
considerando o impressionante aspecto infético e pestilento do local
que urgia urbanizar com a construção de um pavilhão balneário
[19],
[20].
Na sessão
camarária de 26 de Agosto de 1964 são dados poderes ao presidente da
Câmara no sentido de negociar com o proprietário desse imóvel a sua
aquisição ([21]).
Em Fevereiro
de 1968, já na posse do imóvel, a Câmara acabaria por abandonar tanto
a construção do projectado pavilhão balneário, como a demolição do
imóvel adquirido e delibera adaptá-lo a cabinas de banho, encarregando
o Gabinete Técnico do Arquitecto J. Simeão do respectivo projecto ([22]),
que a 10 de Maio de 1968 dá entrada na Câmara ([23]).
Na sua sessão de 26 de Fevereiro de
1969, depois de vária correspondência trocada com a Direcção de
Urbanização do Funchal, em virtude da grande onerosidade que envolvia
a adaptação do imóvel em ruínas a cabinas de banho, a Câmara volta a
optar pelo projecto inicial e solicita a necessária comparticipação ao
Estado.
Contudo, uma vez mais o
projecto não vai em frente e, em Agosto de 1970, a Câmara solicita um
novo parecer à Direcção de Urbanização do Distrito do Funchal,
relativamente à adaptação do velho imóvel, acabando por ser esta a
solução escolhida. Contudo, só no verão de 1972 ([24])
é que provavelmente, terão sido os balneários instalados, sem que, ao
que supomos, tivessem sido efectivados os projectos de adaptação
elaborados em 1968.
As barracas
como alternativa

Contudo, esta
solução não viria a substituir as barracas, primeiramente de lona e
depois feitas em madeira e cobertas a zinco, até porque, poucos anos
depois, o prédio onde haviam sido instalados os balneários viria a ser
ocupado por algumas famílias provenientes das ex-colónias portuguesas,
regressadas à sua terra natal, em consequência da instabilidade
político-social nelas verificada depois do pronunciamento militar de
25 de Abril de 1974.
O 3ºprojecto
de complexo balnear
Foram estas
barracas substituídas em 1984 por uma infra-estrutura com
características definitivas e inaugurada a 22 de Junho desse ano. A
sua construção, segundo um projecto sem qualquer relação com o de
1963, importaria em 4.500 mil contos. Composto, na altura da sua
inauguração, por 12 balneários e de um espaço para restaurante e bar,
este empreendimento previa ainda a construção de uma pequena piscina
para crianças até aos 8 anos
([25]),
que nunca viria a concretizar-se.
O acesso à
praia do Vigário
O acesso tanto
a esta infra-estrutura, como à praia do Vigário, fazia-se
primitivamente através da rua nova da Praia. Contudo, a partir de 1986
passou a ser feito através do Largo da República
[26].
Para isso, houve necessidade de construir uma pequena ponte, sobre a
ribeira do Vigário, que a 29 de Novembro de 1993 viria a ser destruída
pelo seu caudal, ponte essa posteriormente reconstruída em ferro.
No velho acesso à praia do
Vigário, através da rua Nova da Praia existiu em tempos um fontenário,
hoje desactivado, mandado construir por administração directa por
deliberação camarária de 13 de Julho de 1955, concretizando-se desta
forma um desejo que vinha desde 1951 ([27])
e que visava o aproveitamento dos sobejos da nascente dos Rêgos.
Foi aliás, também com o
objectivo de aproveitamento das mesmas águas, que a Câmara mandou
construir um lavadouro público na praia do Vigário ([28]).
O projecto
de um sonhador
Entretanto,
necessário será referir que, por volta de 1967, perante o impasse dos
poderes públicos, a iniciativa privada tentou fazer um melhor
aproveitamento da praia e, em Julho desse ano a imprensa noticia que
um grupo de figuras muito representantes da vila de Câmara de Lobos,
numa associação de vontades, iria realizar um grande plano urbanístico
para a praia local, tornando-a num centro de veraneio e desporto de
grande nível. Seriam cerca de 20, os camaralobenses, que, em sociedade
anónima, tentariam dar nova faceta, sem destruir
o aspecto típico, à parte baixa (no litoral) e à foz da ribeira
daquela vila ([29]).
Ao que tudo leva a crer o
impulsionador desta iniciativa terá sido João Gualberto Pita da Silva,
um camaralobense que terá constituído nos anos 60 e princípios dos
anos 70, uma das mais importantes referências na promoção turística da
vila de Câmara de Lobos ([30]).
Ainda que o plano urbanístico
que a associação pretendia desenvolver, tivesse morrido à nascença, a
verdade é que João Gualberto Pita da Silva, empreendedor como era,
viria a fazer em 1968 um grande investimento na praia do Vigário, onde
instalaria por sua própria conta e risco, balneários para apoio aos
banhistas e um restaurante dotado de uma zona de animação nocturna,
onde não só actuavam grupos musicais, como também havia lugar para um
“pezinho” de dança
[31].
Durou esta iniciativa até cerca de
1971, altura em que, a eclosão de importantes temporais vieram
destruir as infra-estruturas que João Gualberto Pita da Silva,
construíra na praia e que, nas noites de Verão, constituía um
importante pólo de atracção.
Outras
referências
importantes
Para além da
infra-estrutura balnear e do restaurante que hoje constituem as
referências mais importantes da praia do Vigário, não poderemos deixar
de salientar, pela sua proximidade, tanto a sede do Clube Naval de
Câmara de Lobos, como o centro de dia para a terceira idade, o mesmo
acontecendo com dois projectos que se tivessem sido concretizados
viriam a ter importantes reflexos sobre o seu aspecto geral.
A sede do
Clube Naval
Sem
aproveitamento efectivo para apoio balnear e depois de ter servido de
alojamento temporário a algumas famílias de desalojados, provenientes
das ex-colónias portuguesas, o velho prédio situado na praia do
Vigário e adquirido, em meados dos anos 60, para no seu lugar surgir
um complexo balneário, serve hoje de sede ao Clube Naval de Câmara de
Lobos. Com efeito, por
deliberação camarária de 12 de Setembro de 1991, é-lhe cedido o
1ºandar e, por nova deliberação de 22 de Julho de 1993, o rés-do-chão
([32]).
Um projecto
para um
hotel
Constituindo a
facilidade de acesso ao mar, um dos pontos mais importantes, em termos
de opção turística e possuindo Câmara de Lobos inegáveis
potencialidades neste sector, era natural que, mais tarde ou mais
cedo, pudesse surgir para a mais importante praia de Câmara de Lobos
um projecto turístico.
Ainda que, em
1967 tivesse surgido na imprensa uma notícia a esse propósito, mas
pelas suas características, dificilmente concretizada, em finais do
ano de 1990, o Arq. Tomás Taveira terá iniciado negociações com a
Câmara Municipal de Câmara de Lobos, com vista à construção de um
hotel junto à praia do Vigário. Nesse sentido, chegou a Câmara a
assinar com ele um contrato de promessa de compra e venda do espaço
necessário.
Segundo o teor
desse contrato
([33]),
aprovado em sessão camarária de 13 de Dezembro de 1990, a Câmara
Municipal de Câmara de Lobos comprometer-se-ia a ceder ao Arq. Tomás
Taveira ou, a uma sociedade dele dependente, o terreno que possuía no
caminho das Preces, hoje estrada de Santa Clara, com frente para o
oceano na zona da praia do Vigário para a construção de um hotel de 5
estrelas, com 20 pisos e com 350 quartos e, ainda, 100 apartamentos
destinados a time sharing.
Como contrapartida, o Arq. Tomás
Taveira elaboraria, num prazo de 3 meses, todos os estudos técnicos
necessários à aprovação do projecto de arquitectura; construiria uma
praia artificial e uma piscina pública integrada nesta praia;
preservaria o espaço habitado e ocupado por um lar de terceira idade,
assim como o bar e os apoios da praia (balneários), então existentes,
embora com outra localização física; obrigar-se-ia a efectuar as obras
de limpeza da ribeira e a manter as zonas exteriores públicas
ajardinadas e ainda, a manter o livre acesso à praia de Câmara de
Lobos.
Ao se tornar, este contrato,
do domínio público, logo surgiriam inúmeras vozes discordantes, tanto
dos partidos da oposição como de algumas individualidades ([34]).
Perante a forte contestação a este
projecto, que teve a ver com o elevado índice de construção previsto,
ainda que também não seja de excluir a influência negativa provocada
pela imagem bastante desgastada do seu promotor, na altura envolvido
num escândalo sexual, a Câmara aproveita a não elaboração do projecto
no prazo contratual estabelecido, para, na sua sessão de 23 de Maio de
1991, o denunciar, apesar de em ofício da mesma data o Arq. Tomás
Taveira ter solicitado a alteração da data da sua entrega.
Com efeito, tendo sido
necessário ultrapassar algumas dificuldades, em termos de
financiamento da obra, facto que terá obrigado a substanciais
alterações do projecto, a sua conclusão viria a sofrer atrasos
significativos, não sendo de excluir, ainda, que a eclosão da guerra
do Golfo tivesse também contribuído para esse atraso uma vez que
estariam envolvidos capitais árabes ([35]).
Com o cancelamento do contrato
permaneceria a praia do Vigário integralmente do domínio público, o
apoio balneário no local onde em 1984 havia sido construído, o mesmo
acontecendo com o lar de dia da terceira idade a funcionar em
instalações
sobranceiras tanto à praia como à ribeira do Vigário. Perdeu-se
contudo, foi a oportunidade de Câmara de Lobos ficar dotado de uma
infra-estrutura turística que, se pudesse ter sido redimensionada às
características do local de implantação, poderia ter constituído um
factor de desenvolvimento de Câmara de Lobos, não só em termos
económicos como sociais.
Um parque de
estacionamento
Com o fim do
projecto do Arq. Tomás Taveira, a praia do Vigário enfrenta agora o
desafio que lhe irá ser colocado pelo projecto para toda a frente mar
de Câmara de Lobos. Entretanto, enquanto tal projecto não é aprovado,
isso não impede que surjam novas ideias para o local ou zonas
limítrofes, como é a ribeira do Vigário. Tal é o caso de um projecto
da autoria do partido socialista visando a cobertura da ribeira do
Vigário, nas proximidades da praia do Vigário, como forma de ampliar o
actual largo da República e resolver o problema do estacionamento na
cidade de Câmara de Lobos e publicado na edição de 5 de Fevereiro de
1998, do Diário de Notícias. Esta iniciativa, depois de alguma
controvérsia entre o partido socialista e social-democrata
relativamente à autoria inicial da ideia acabaria por ser reprovada em
sessão camarária.
Com efeito, esteve envolvido em vários projectos turísticos,
nomeadamente ao nível da restauração e onde se destaca o
restaurante Tartaruga, o Riba-Mar e o Coral-Bar. Para além do
investimento que fazia na gastronomia regional, não faltava a
animação com música ao vivo, onde o folclore e o fado tinham
espaço privilegiado. Encontramo-lo também em projectos mais
ambiciosos nomeadamente num empreendimento denominado de Churchill
Village, a ser construído na zona da Trincheira.
Diário da Madeira, 16 de Junho de 1968. No dia 7 de junho de 1968,
a gerência do restaurante Riba-mar inaugurou, em Câmara de Lobos,
uma praia de banhos e que e a melhor que existe na Madeira.
Na sessão camarária de 12 de Setembro de 1996 foi presente o
resultado de uma deliberação do Governo Regional onde se dá conta
da autorização da realização de um protocolo de cedência, a título
precário e gratuito do edifício situado na rua Nova da Praia nº1
ao Clube Naval de Câmara de Lobos para nele instalar os seus
serviços administrativos e de secretariado.
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