Rua Dr.
António Vitorino de Castro Jorge
Arruamento da vila do Estreito de Câmara de Lobos. É o segundo dos
três troços em que, a partir do Largo do Patim, se encontra
toponimicamente dividida a estrada de acesso à freguesia do Jardim da
Serra, estendendo-se entre a rua da Igreja e o lugar do Calvário onde
passa a se denominar de Rua Dr. Alberto de Araújo.
Tal como
a rua da igreja, que lhe antecede, em toda a sua extensão, o seu
trajecto corresponde ao da antiga Estrada Real 25 que ligava, passando
pela freguesia do Estreito, o Funchal a São Vicente.
Com excepção da sua parte inicial, alargada em 1922, até 1957, na
maior parte do seu trajecto, a actual Rua Dr. António Vitorino de
Castro Jorge era extremamente estreita, ainda que permitindo a
circulação automóvel. No entanto, essa circulação, substancialmente
aumentada a partir de 194 7
[1],
não se fazia sem que as pessoas, perante a passagem de um carro
tivessem de se
refugiar nos portais das casas.
Com efeito, em 1947, com o
início das obras de abertura da estrada entre o Calvário e o
Estreitinho, dotada de 5 metros de largura e permitindo a ligação
automóvel com as zonas altas da freguesia, o trânsito não só aumentou
significativamente, como a passagem de automóveis carregados de
madeiras e frança através da estreita Rua do Dr. Castro Jorge,
provocava danos nos muros e nas casas sobranceiras.
O alargamento da rua
Por esse facto impunha-se o seu
alargamento, necessidade que, por várias vezes e, ao longo dos anos,
a imprensa, através dos seus correspondentes locais faria chegar às
autoridades
[2].
Na sessão camarária de 10 de Março de 1954 a Direcção de
Melhoramentos Rurais sugere que em vez da construção do caminho
entre o Jardim da Serra e as Corticeiras se deveria melhorar o
caminho da Igreja do Estreito ao Calvário, sugestão que a Câmara
aceita e logo delibera mandar elaborar o respectivo projecto.
Refira-se a este propósito que, apesar de necessitando de alguma
perícia, era possível a acessibilidade automóvel até ao Calvário,
antes de 1954. Com efeito, em pedidos de licenciamento de carreiras
de automóveis de carga, entre o Estreito de Câmara de Lobos e o
Funchal, em 1935, o Calvário surge, como local de
praça/estacionamento proposto[3].
Na sua sessão de 25 de Agosto de
1954 a Câmara decide, de acordo com o plano de comparticipações do
Estado, incluir esta obra no orçamento de 1955, tendo o respectivo
projecto sido aprovado a 28 de Setembro do mesmo ano.
Contudo, contrariamente ao
previsto, esta obra não se realizaria em 1955 e a 12 de Setembro de
1956 o alargamento do caminho entre a igreja e o Calvário volta a ser
incluído no plano de obras a realizar no ano seguinte, sendo no
entanto o respectivo concurso aberto a 10 de Outubro de 1956.
Depois de dois concursos onde não
apareceram candidatos, a obra de alargamento da Rua Dr. Castro Jorge é
finalmente adjudicada a 12 de Dezembro de 1956, pelo preço de
137.900$00, devendo as obras ficarem concluídas num prazo de 4 meses.
Todavia, a celebração da respectiva escritura verificada somente a 17
de Maio de 1957, viria a atrasar o início das obras.
Em Agosto de 1957 a imprensa dava
conta de que se estava a proceder ao seu alargamento e pavimentação,
referindo ainda que a estrada passaria a ter 6 metros de largura
[4].
Em Julho de 1977 é esta estrada
alvo, pela primeira vez, de cobertura betuminosa
[5].
Atribuição da denominação
A 18 de Maio de 1995 a este
troço da estrada de acesso ao Jardim da Serra, compreendido entre a
Rua da Igreja, no seu cruzamento com a Rua Capitão Armando Pinto
Correia e o lugar do Calvário é dado o nome do
Dr. António Vitorino de
Castro Jorge. Contudo, já anteriormente, por deliberação de 3 de
Setembro de 1987 havia sido dado o seu nome à rua entre o Largo do
Patim e o Largo das Corticeiras, homenagem que recusou.
Para além desta rua, o nome do
Dr. Castro Jorge, foi também por deliberação de 18 de Maio de 1995,
dado à azinhaga que dá acesso ao seu consultório e que partindo da Rua
Dr. Castro Jorge, acima da entrada para o Caminho Velho da Marinheira
se estende até ao caminho Calvário - Estaleiro.
As referências mais
importantes
Nesta rua encontra-se sitiada
a policlínica do Estreito, inaugurada a 10 de Março de 1995; a quinta
que foi de António Prócoro de Macedo Júnior, e denominada desde 29 de
Abril de 1999, altura em que foi inaugurado no seu interior um
restaurante, de Quinta da Pinheira, numa alusão ao facto de
possuir no seu interior uma velha e imponente
pinheira
[6];
a quinta conhecida como do Sr. Tomás, onde
viveu o Dr. José Sabino de Abreu
[7] e
a residência do Dr. António Vitorino de Castro Jorge
[8].
Nesta rua também teve residência
João Albino de Barros, músico, fundador do Grupo Musical Estreitense e
durante vários anos regedor da freguesia do Estreito.
Já no lugar do Calvário, assim
denominado, muito provavelmente, por ser o local reservado à
celebração de algumas das cerimónias alusivas à crucificação de
Cristo, encontramos uma pequena capela, conhecida por capela do
Calvário e ocasionalmente da Vera Cruz. Foi esta capela construída em
1963, por iniciativa de Maria Virgínia da Encarnação Pestana, com o
apoio de várias pessoas da localidade, em terreno cedido, para o
efeito, pelo Dr. Castro Jorge. Constitui esta capela o fim das
estações da Via Sacra, assinaladas por cruzes ao longo de todo o
trajecto da Rua Dr. Castro Jorge, e veio substituir um primitivo
oratório, onde provavelmente se encontraria o Cruzeiro do Calvário,
inaugurado a 16 de Junho de 1940
[9].
Ainda no lugar do Calvário,
encontramos uma estação de tratamento de águas, inaugurada em 27
de Outubro de 1979 e o acesso turístico para passeios a pé através da
Levada do Norte, conduta esta inaugurada a 1 de Junho de 1952 e que
viria revolucionar toda a agricultura tanto da parte da freguesia do
Estreito, situada abaixo dela como da freguesia de Câmara de Lobos.
Situado na rua Dr. Castro
Jorge, nas proximidades da sua ligação com a rua da Igreja,
encontra-se o primeiro posto de transformação eléctrica construído no
Estreito e que constitui uma espécie de marco histórico testemunhando
a chegada, a 14 de Dezembro de 1956, da corrente eléctrica à
freguesia.
Os transportes colectivos
de passageiros
Esta rua ainda se encontra ligada à origem dos transportes
colectivos de passageiros do Estreito de Câmara de Lobos. Com efeito
em Janeiro de 1928, existiam no Estreito de Câmara de Lobos, ao
serviço da sua população, cinco camionetas, três pertencentes a João
Pestana Santos e que foi quem pri meiro
prestou este tipo de serviço de transportes na freguesia, e duas a
Manuel Faustino de Jesus
[10],
ambos moradores na hoje denominada Rua Dr. Castro Jorge. Contudo,
por volta de 1931 já só existia uma companhia de automóveis, dotada
de quatro viaturas e propriedade do Dr. José Sabino de Abreu,
residente também nesta rua. Esta última companhia viria
posteriormente a estar na origem da Sociedade de Automóveis do
Estreito de Câmara de Lobos, que a 1 de Março de 1967 passou a
integrar a Rodoeste. Ainda hoje, nesta rua existem vestígios de duas
garagens construídas especificamente para as primeiras camionetas,
uma por parte de Manuel Faustino de Jesus, situada ao norte da sua
quinta
[11],
hoje dos herdeiros de António Prócoro de Macedo e outra por parte do
Dr. José Sabino de Abreu e situada no cruzamento da rua do Dr.
Castro Jorge com a Azinhaga do mesmo nome.
Nesta rua, até aos anos 60/70
existiram três moinhos movidos a água, um na propriedade de António
Prócoro de Macedo e dois na antiga propriedade do Dr. José Sabino de
Abreu, um localizado na partilha da sua propriedade com a de António
Prócoro de Macedo Júnior e outro localizado no cruzamento da rua Dr.
António Vitorino de Castro Jorge com a vereda do mesmo nome.
Ainda que antes outras iniciativas nesse sentido pudessem ter
eventualmente ocorrido, na sua edição de 21 de Janeiro de 1954,
o Eco do Funchal chama precisamente a atenção da Câmara
Municipal de Câmara de Lobos para essa necessidade.
Ainda que antes outras
iniciativas nesse sentido pudessem ter eventualmente ocorrido,
na sua edição de 21 de Janeiro de 1954, o Eco do Funchal chama
precisamente a atenção da Câmara Municipal de Câmara de Lobos
para essa necessidade.
O Dr. José Sabino de Abreu, nasceu em Lisboa a 30 de
Dezembro de 1874, tendo falecido, no Funchal no dia 20 de
Fevereiro de 1954. Era filho de Domingos de Abreu, natural de
São Vicente e de Valentina Nóbrega natural do continente. Ainda
criança veio para a ilha da Madeira, onde passou a viver e onde
fez o curso do Liceu do Funchal e ingressou no curso de medicina
na Escola Médico-Cirúrgica, que concluiu em 1897. No dia 4 de
Setembro de 1901 é nomeado médico municipal do concelho de
Câmara de Lobos, cargo em que é empossado no dia 25 desse mês,
fixando residência no Estreito de Câmara de Lobos. De acordo com
o Diário de Notícias de 1 de Fevereiro de 1942 ocuparia nesse
dia ainda que interinamente o cargo de Delegado de Saúde do
Concelho de Câmara de Lobos. (em Dezembro de 1944 o Dr. Sabino
tinha 40 anos, três meses e cinco dias de Serviço) e onde
exerceu medicina até aos 70 anos, idade em que se reformou,
sendo substituído nas suas funções pelo Dr. Castro Jorge. Foi
também sub-delegado de saúde do concelho de Câmara de Lobos,
tendo sido, de acordo com o Diário de Notícias de 28 de Setembro
de 1944, por esta altura aposentado. Casou com Augusta Matilde
Figueira César, falecida a 18 de Fevereiro de 1945, de quem teve
dois filhos: o Dr. Jaime César de Abreu e Ema Cecília César de
Abreu (Ferreira). O local onde residiu é mais conhecido como a
quinta do Sr. Tomás, denominação derivada de Tomás Martiniano
Gonçalves Ferreira, marido de Ema Cecília César de Abreu. Para
além do exercício da medicina, o Dr. José Sabino de Abreu
dedicou-se à industria dos transportes, sendo proprietário de
uma empresa de transportes colectivos de passageiros, possuindo
também uma fábrica de manteiga que existiu ao sítio da igreja,
no Estreito de Câmara de Lobos.
Na sessão camarária de 21 de Novembro de 1945, o Dr. António
Vitorino de Castro Jorge pede para construir uma casa para
moradia.
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