Rua Dr. João Abel de Freitas
Rua existente no centro
da cidade de Câmara de Lobos, estendendo-se desde a estrada João
Gonçalves Zarco, até ao largo da República. É
atravessada pelo caminho de São Bernardino, que através de
um longo percurso, liga o Largo de São Sebastião ao antigo
convento de São Bernardino. Depois de mais de meio século
de espera, no dia 22 de Abril de 1947, finalmente tiveram início
as suas obras, que se haveriam de prolongar até finais de 1950.
Conhecida inicialmente por estrada dos Quintais ou da Levada, a 18 de Agosto
de 1948 a Câmara delibera atribuir-lhe o nome do
Dr.
João Abel de Freitas, então governador do Distrito.
Quando se faz ou se projecta
a abertura de uma rua às vezes não é fácil
dizer de quem foi a ideia, até porque apesar de muitos a poderem
ter, só alguns têm o privilégio de a construir ou de
patentear através de testemunhos públicos a sua abertura.
No caso da rua Dr. João
Abel de Freitas, parece que cabe a iniciativa da sua construção
a Joaquim Pestana, o poeta câmara-lobense que em 1995 foi despojado da toponímica
câmara-lobense, pela atribuição da denominação
do Espírito Santo, à rua que antes ostentara o seu nome.
Segundo o Pe. Eduardo
Clemente Nunes Pereira, que durante muitos anos conviveu com o poeta e
que por isso mesmo o conhecia muito bem, refere num artigo publicado no
Diário da Madeira de 29 de Junho de 1937, que Joaquim Pestana serviu
com sinceridade e fé patriótica a nação na
qualidade de vereador da Câmara Municipal de Câmara de Lobos,
ajudando a dotar o concelho de alguns melhoramentos. É da sua iniciativa
a abertura duma rua que, apesar da sua absoluta necessidade ainda não
se fez - o prolongamento da estrada Vieira de Castro ou Nacional nº23
através do sítio dos Quintais. Se algum dia se efectivar,
não será de mais chamá-la de Joaquim Pestana, pois
toda a vida defendeu calorosamente este grande melhoramento.
Mais de meio século
à espera de uma rua
Esta rua foi, na altura
da sua abertura, ocorrida em 1947, uma das mais importantes obras realizadas
e talvez aquela porque, durante mais tempo, lutou a população
câmara-lobense, luta essa que já vinha desde finais do século
passado, tendo mesmo sido objecto de pelo menos dois abaixo-assinados dirigidos
à então Junta Geral do Distrito, e publicados na imprensa
da época, um em 1927 e outro em 1934.
De acordo com o abaixo
assinado de 1934 e do qual dá conta o Diário de Notícias
na sua edição de 13 de Novembro, o concelho de Câmara
de Lobos tinha pendente da Junta Geral, havia na altura mais de 50 anos,
uma pretensão que se lhe afigurava de absoluta necessidade e de
inteira justiça para todo o concelho. Era a abertura de um ramal
que prolongasse a estrada Vieira de Castro, através do sítio
dos Quintais, até ao antigo passeio a oeste da igreja paroquial.
Segundo o mesmo abaixo-assinado, na altura, a rua principal, hoje rua de
São João de Deus, sendo a mais importante e aquela por onde
toda a vida câmara-lobense passava, era incapaz de suportar o movimento,
nomeadamente dos transportes de passageiros que tinham um serviço
regular de 15 em 15 minutos; a grande afluência de carros ligeiros
de turismo e o movimento de corsas de tracção humana e animal
com lenha, cana-de-açúcar no tempo da sua colheita ou outros
produtos da terra, factos que às vezes faziam com que um automóvel
demorasse mais de meia hora para percorrer 500 metros de rua.
Como consequência
e para obviar estes inconveniente e prejuízos, tanto para a população
do concelho, como para os seus visitantes, se havia pensado na abertura
deste ramal a ser construído paralelamente à rua principal,
o que permitiria à Câmara a abertura de pelo menos duas travessas
e até de uma praça, contribuindo umas e outras para descongestionar
o movimento da vila e facilitar a construção de prédios
de moradia.
Apesar das várias
décadas que mediaram entre a pretensão da população
câmara-lobense e a concretização do seu sonho, não
faltaram os projectos e as medições efectuadas pela então
Junta Geral. Em 5 de Junho de 1923 a Junta Geral manda proceder aos estudos
para a construção deste ramal. Em Junho de 1931, anuncia
que em breve iriam começar as obras de abertura. No mês seguinte
a imprensa dava conta de que já se estavam a proceder a novas medições
para que esta estrada saísse nas proximidades da ribeira do Vigário,
por forma a poder mais tarde ter ligação com uma futura estrada
de acesso à Cruz da Caldeira.
Contudo, uma vez mais
a estrada dos Quintais ficar-se-ia pelas medidas e pelos projectos.
A abertura da rua dos
Quintais
Os anos entretanto foram
passando e a 12 de Março de 1947, depois de duas tentativas anteriores,
uma a 15 de Janeiro e outra a 12 de Fevereiro, onde não apareceram
candidatos, a obra de construção da estrada dos Quintais
é finalmente adjudicada a Manuel Marques, pelo valor de 297.000$00.
Segundo a acta da sessão
camarária de 23 de Abril de 1947, as respectivas obras, ter-se-iam
iniciado no dia anterior prolongando-se pelo menos até finais de
1950, altura em que segundo o Diário de Notícias de 4 de
Setembro tinham sido concluídas as obras de calcetamento.
No decurso de 1988 foi
esta estrada alvo de substituição do seu pavimento empedrado,
por cobertura de alcatrão.
O projecto da rua dos
Quintais
Inicialmente o trajecto
proposto para esta estrada estender-se-ia entre o largo 28 de Maio, hoje
largo da República e o edifício dos correios, hoje substituído
pelo mercado municipal de Câmara de Lobos e onde se iria ligar à
rua da Carreira, tendo por esse facto um percurso próximo ao da
actual rua Pe. Eduardo Nunes Clemente Pereira. Contudo, o convite
formulado, pela Câmara, na sua sessão de 18 de Abril de 1945,
ao arquitecto Januário de Almeida Godinho, com "atelier" no Porto,
no sentido de proceder ao estudo e elaboração do projecto
para a construção do edifício dos Paços do
Concelho e demais repartições públicas, bem como de
estudar e indicar o melhor local para a sua implantação,
viria a condicionar a alteração do trajecto da estrada.
Segundo a sessão
de 6 de Junho de 1945, havendo já na altura um projecto para a estrada
dos Quintais e tendo sido colocada a hipótese de instalar o edifício
dos Paços do Concelho, numa das suas margens, o arquitecto não
concordou com a rua em causa e fazendo o reconhecimento do terreno e respectivo
estudo disse haver grande necessidade de abertura de uma nova rua noutro
local, uma vez que a projectada ficava muito baixa e não dignificava
o edifício. Perante estes factos a Câmara encarrega-o de não
só elaborar o projecto dos Paços do Concelho como também
da nova estrada.
Na sessão camarária
de 13 de Março de 1946 é presente o anteprojecto da rua da
Levada, bem como de duas soluções do anteprojecto do edifício
dos Paços do Concelho.
Dois meses depois, na
sessão camarária de 22 de Maio de 1946 é já
presente o projecto do arruamento entre a estrada nacional 101 e o largo
da Igreja de Câmara de Lobos orçada em 386.227$00 sem referir
no entanto a sua proveniência. Nesta altura o projecto é aprovado
e é deliberado solicitar a sua comparticipação por
parte do Estado.
Na sessão camarária
de 10 de Julho de 1946 é dado um parecer negativo pelo Eng. Ribeiro
Pereira acerca de um pedido de licença para ampliar um prédio
existente no Pé-de-Pico, com a alegação de que a sua
construção contrariaria o efeito estético que segundo
o Arq. Januário Godinho seria possível conseguir com a abertura
da projectada rua dos Quintais. Perante este parecer, a Câmara
informa o requerente de que a construção em causa seria prejudicial
ao projecto de construção de uma rua cujo projecto teria
sido aprovado, aguardando só a comparticipação do
Estado para iniciar as respectivas obras.
O autor do projecto
Ainda que tudo indicasse
que o projecto da estrada dos Quintais pertencesse ao Arq. Godinho eis
que na sua edição de 30 de Outubro de 1946, o Diário
de Notícias ao anunciar que superiormente havia sido aprovado o
projecto da estrada dos Quintais, fá-lo como sendo da autoria do
Eng. Fernando Ribeiro Pereira. Referia ainda o mesmo órgão de informação
de que o seu traçado, com uma extensão de 434,3 metros estender-se-ia
desde o Largo 28 de Maio, hoje largo da República até a estrada
Nacional, hoje estrada João Gonçalves Zarco, em arco de circulo
de 284 metros de raio, estando previsto na sua margem, sensivelmente ao
meio do seu trajecto, a construção dos Paços do Concelho.
Adiantava ainda o Diário
de Notícias de 30 de Outubro de 1946 de que a havia sido dada para
esta estrada uma comparticipação do Estado através
do Fundo de Desemprego no montante de 158.760$00 e que a sua construção
deveria ficar concluída dentro de um ano.
Não havendo posteriormente
qualquer rectificação desta notícia, não tendo
sido encontrado, até ao momento, o projecto deste arruamento, nem
sendo o conteúdo das actas muito elucidativo relativamente a este
ponto, não é sem alguma dúvida que se pode apontar
o nome do seu autor.
Contudo, por todo o historial
do projecto e pela leitura de toda a notícia inserta no Diário
de Notícias de 29 de Março de 1946, que não é
mais do que uma cópia da memória descritiva do projecto da
estrada contido no "dossier" relativo ao projecto dos paços no concelho,
a nossa inclinação vai naturalmente para o Arq. Januário
Godinho, ainda que também não seja de excluir a intervenção
do Eng. Fernando Ribeiro Pereira.
Segundo o Arq. Januário
Almeida Godinho esta nova artéria foi traçada em condições
de servir como espinha dorsal da futura expansão da vila, naturalmente
indicada na encosta que se desenha em anfiteatro, entre a rua principal
e a estrada nacional. O novo arruamento, além de traduzir uma velha
aspiração local, constitui um notável melhoramento
para a vila, não só no que diz respeito à sua expansão
como à ligação fácil e directa entre os lugares
da Terra Chã e Pé-de-Pico. (...).
No estudo que oportunamente
apresentamos, dava-se à rua da Levada um traçado diferente
daquele que consta do projecto já anteriormente elaborado pela Câmara,
para o mesmo local. A alteração proposta destina-se não
só a melhorar o seu traçado no aspecto panorâmico,
como também para obter outras vantagens urbanísticas no aproveitamento
de uma zona residencial, circulação e ligação
fáceis entre dois lugares importantes, e ainda criar um enquadramento
apropriado para a localização do novo edifício dos
Paços do Concelho. O seu traçado desenha-se sensivelmente
em forma de grande arco abatido em que um dos extremos ramifica ligando
com o largo da igreja e a ponte do Vigário e o outro extremo com
a estrada Nacional , em ligação directa com a zona do Pé-de-Pico
(...).
Imaginou-se o seu traçado
como uma grande varanda florida alta e dominante de onde se desfruta o
raro e pitoresco panorama de Câmara de Lobos.
(...) Para que o resultado
seja completo projectou-se um perfil transversal tipo esplanada, com a
margem exterior, isto é, do lado do mar, livre de construção
non aedificandi e, a margem interior reservada para a construção
de casas isoladas.
O projecto dos Paços
do Concelho
Tendo o Arq. Januário
Almeida Godinho aceite a elaboração do projecto destinado
aos Paços do Concelho, na sessão camarária de 21 de
Novembro de 1945, é presente uma sua carta informando a Câmara
de que o anteprojecto da rua da Levada e edifício dos Paços
do Concelho, encontrava-se praticamente concluído, devendo ser remetido
dentro de 15 dias. Informava ainda a carta de que as excepcionais características
do terreno, tão belo como ingrato, reflectiram-se proporcionalmente
no estudo do projecto, tornando-o de tal forma trabalhoso que só
um estudo persistente pôde conduzir ao resultado desejado, pois só
quem conhece o terreno pode ajuizar das dificuldades do problema proposto.
Contudo, segundo dizia, após várias tentativas havia chegado
a uma solução que deveria estar à altura do problema,
no que dizia respeito às exigências funcionais da obra e ao
particular interesse turístico de Câmara de Lobos.
Na sessão camarária
de 13 de Março de 1946 é presente o anteprojecto da rua da
Levada, bem como de duas soluções do anteprojecto do edifício
dos Paços do Concelho.
Segundo a memória
descritiva do projecto dos Paços do Concelho este edifício,
seria implantado no centro do percurso da estrada da levada como que se
de uma coroa se tratasse.
Desenvolver-se-ia em
grande arco de circulo, ao jeito do próprio terreno, em concha,
todo aberto sobre a baía de Câmara de Lobos, com uma enorme
varanda debruçada sobre a vila. À sua frente cria-se um alargamento
da rua, em forma de miradouro, servindo igualmente para estacionamento
e manobra de carros.
Este edifício
desenvolve-se em dois pisos, que devido ao perfil acidentado do terreno,
tem duas entradas independentes, uma ao nível da nova artéria
projectada - entrada principal - e, outra com acesso pela parte alta, descendo
por rampas da estrada Nacional (...).
No primeiro pavimento
ficam distribuídas a repartição de finanças,
tesouraria, inspecção de saúde, registo civil, aferições,
calaboiços, etc., e no segundo pavimento fica a Câmara propriamente
dita, com os seus serviços de secretaria, sala de sessões,
gabinetes vários, repartições de obras, arquivos gerais,
polícia etc.
A feição
arquitectónica deste edifício tão representativo como
administrativo inspira-se nos velhos termos da arquitectura madeirense,
onde sempre se desenha uma grande e repousada harmonia de linhas e volumes,
entrecortadas por graciosos maciços de árvores e flores.
Apesar de elaborado o
projecto e, de ter havido a promessa por parte do Governo Central de o
fazer incluir no plano de obras tanto de 1948, como de 1950 nunca a sua
construção se viria a verificar.
Para que o concelho de
Câmara de Lobos pudesse concretizar este sonho, que de resto acalentava
desde a sua instalação, muitos anos haveriam ainda de decorrer.
Com efeito, só a 8 de Outubro de 1992 é que Câmara
de Lobos passa a dispor de novos Paços do Concelho, construídos
não na rua Dr. João Abel de Freitas como estava previsto
em 1947, mas no largo da República e, naturalmente segundo um projecto,
completamente diferente e adaptado às novas exigências. Primitivamente denominada
de estrada dos Quintais ou da Levada dos Quintais, a atestar a sua relação
com os terrenos pertencentes aos quintais situados nas traseiras das residências
que ladeavam a margem norte da rua principal, hoje rua de São João
de Deus, este arruamento passa a 18 de Agosto de 1948, a ostentar o nome
de Dr. João Abel de Freitas, por proposta do então presidente
da edilidade câmara-lobense, Dr. Vasco dos Reis Gonçalves.
De acordo com a sessão
camarária deste dia estando praticamente concluídas as
obras de abertura do novo arruamento nesta vila, obra essa a que o público
se acostumou a denominar por rua dos Quintais ou da Levada, melhoramento
que se pode sem receio de desmentido ou exagero considerar o mais importante
realizado sob a égide do Estado Novo neste concelho e, considerando
a protecção despendida pelo actual Governador do Distrito
a este município e o incitamento dado para ser tornada realidade
uma aspiração latente nos povos há algumas dezenas
de anos; considerando que esse arruamento é presentemente, e talvez
ainda por muitos anos continuará a ser a artéria principal
e de maior importância nesta vila e, ainda considerando o alto apreço
e estima que todos os munícipes nutrem pelo nosso Governador do
Distrito, resolve a Câmara interpretando o sentimento geral da população,
que se dê a esse novo arruamento o nome do Doutor João Abel
de Freitas.
Posteriormente, também
por iniciativa do Dr. Vasco dos Reis Gonçalves, outra homenagem,
já póstuma, haveria de lhe ser prestada e que reuniria a
27 de Maio de 1949, dia do seu aniversário natalício, no
cemitério das Angústias as mais importantes individualidades
políticas e religiosas de toda a ilha.
Os principais pontos
de referência
Nesta rua, para além
de vários estabelecimentos comerciais, encontram-se sitiados a Estação
de Telefones e Telecomunicações; a Estação
dos Correios, inaugurada a 23 de Novembro de 1982 e que substituiu a existente
na rua da Carreira, no local hoje ocupado pelo mercado municipal; a extensão
local do Centro Médico da Sé, inaugurado a 18 de Setembro
de 1996 e o Centro de Saúde de Câmara de Lobos.
Relativamente à
Estação de Telefones e Telecomunicações, o
seu edifício foi construído por volta de 1963 pelo proprietário
do respectivo terreno, segundo um projecto concebido pelos próprios
CTT, com quem estabeleceu um contrato de arrendamento e, destinado à
instalação da central telefónica automática
de Câmara de Lobos.
Com efeito, segundo os
termos do contrato de arrendamento celebrado a 19 de Março de 1964,
ainda que só rectificado um ou dois meses depois, entre o proprietário
do edifício e os CTT este destinava-se à estação
automática e de depósito de material dos CTT de Câmara
de Lobos.
De acordo com um dos seus
primeiros funcionários, só por volta de 1967 é que
a estação terá começado a funcionar naquele
local, tendo a 14 de Dezembro de 1990 passado a digital.
O actual Centro de Saúde,
possuindo desde 16 de Março de 1996, um serviço de atendimento
permanente, encontra-se situado num edifício inaugurado em 27 de
Maio de 1956, e na altura dotado de instalações para Dispensário
Materno-Infantil e para a Casa dos Pescadores. Em Janeiro de 1960, o Boletim
da Junta Geral do Distrito anuncia que o edifício iria ser remodelado
e ampliado por forma a funcionar nele uma pequena maternidade com 12 camas.
Na realidade neste local haveria de funcionar durante vários anos
uma maternidade.
Nesta rua, nos anos 60
fez algum furor o restaurante Tartaruga hoje desaparecido e que juntamente
com o Ribamar e o Coral situados no Largo da República; o Barú,
hoje também desaparecido e situado no princípio da estrada
de Santa Clara e o restaurante Baía, situado na rua de N. S. da
Conceição, constituiu um importante pólo de
atracção chegando mesmo a ter música ao vivo e a estar
licenciado para encerrar às 4 horas da manhã.
O busto do Dr. Januário
Figueira
Nesta rua junto à
sua ligação com a estrada João Gonçalves Zarco
existe um pequeno jardim construído em finais da década de
50, onde se encontra um busto em memória
do Dr. Januário da Silva Figueira, inaugurado a 26 de Agosto
de 1966.
O Dr. Figueira como era
mais conhecido, era médico, natural do Campanário, freguesia,
que na altura do seu nascimento, ocorrido a 19 de Setembro de 1854, pertencia
ao concelho de Câmara de Lobos. Após ter concluído
o curso de medicina em Montepelier, fixou residência na sede do concelho,
onde exerceu clínica, tendo sido um dos mais procurados médicos
da altura e onde faleceu a 14 de Janeiro de 1924.
Logo após a sua
morte constituiu-se uma comissão com a finalidade de mandar erigir
um monumento em sua honra. Para o efeito, o escultor Francisco Franco acompanhado
de três dos membros desta comissão, o Dr. Domingos Reis Costa,
o Cónego Francisco Venceslau Mendes e o padre Eduardo Pereira, deslocar-se-iam
no dia 16 de Janeiro aquela que tinha sido a residência do Dr. Januário
Figueira, onde lhe faria uma mascara para depois esculpir o seu busto em
bronze.
Contudo, apesar de cedo
se terem feito esforços com vista à angariação
das verbas necessárias para a edificação do monumento,
como atesta um leilão de um seu retrato a carvão em Julho
de 1924, da autoria de Armanda de Sousa, uma professora oficial que o conheceu
de perto, terão surgido algumas dificuldades. Em 1934 a angariação
de meios financeiros destinados à aquisição do busto
ainda não estava completa e em 13 de Junho de 1956, a Câmara
Municipal de Câmara de Lobos vê-se confrontada com a necessidade
de o adquirir, tendo pago por ele vinte mil escudos, quantia que,
de acordo com o Dr. Cabral do Nascimento, na posse de quem o busto se encontrava,
ficou aquém do seu real valor, estimado na altura como rondando
os cinquenta a sessenta mil escudos. Nessa ocasião, apesar da Câmara
ter deliberado encarregar um técnico de elaborar o projecto para
o pedestal, o busto acabaria por ficar armazenado nas suas arrecadações.
Em 14 de Outubro de 1964, a Câmara Municipal atendendo ao facto da
edificação do monumento ao Dr. Figueira da Silva constituir
uma antiga aspiração dos câmara-lobenses, delibera mandar
erigir o busto no jardim do Largo 28 de Maio, sendo encarregado o escultor
Tomás Figueira da Silva de elaborar o projecto para o seu pedestal.
Em 26 de Agosto de 1966, é finalmente inaugurado o busto em memória
do Dr. Januário Figueira, ficando implantado não no local
inicialmente previsto mas à entrada da Rua Dr. João Abel
de Freitas, em Câmara de Lobos.
Bibliografia:
Diário
de Notícias, 27 de Janeiro de 1927
Diário
de Notícias, 13 de Novembro de 1934.
Eco do Funchal,
29 de Março de 1946.
Diário
de Notícias de 11 de Setembro de 1948.
Diário
de Notícias, 16 de Outubro de 1948.
Diário
de Notícias, 1 de Novembro de 1948.
Diário
de Notícias, 16 de Novembro de 1948.
Livro de
Vereações da CMCL.
CLODE, Peter.
Registo Bio-Bibliográfico de Madeirenses, Secs. XIX-XX, Funchal,
FREITAS,
M Pedro. Dr. Januário Figueira da Silva. Girão-Revista
de Temas Culturais do Concelho de Câmara de Lobos, nº 8, 1º
semestre de 1992, 399-400.
FREITAS,
M Pedro. Busto ao Dr. Januário Figueira da Silva. Girão-Revista
de Temas Culturais do Concelho de Câmara de Lobos, nº 8, 1º
semestre de 1992, 399-400.
VERíSSIMO,
Nelson; SAINZ-TRUEVA, José.
João Abel de Freitas.
Esculturas da Região Autónoma da Madeira, 1996, 39-40.
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