Rua
da Igreja (Estreito de
Câmara de Lobos)
A rua da
Igreja situa-se no centro da vila do Estreito de Câmara de Lobos,
estendendo-se entre o Largo do Patim e a rua Dr. António Vitorino de
Castro Jorge. É o primeiro dos três troços em que desde 18 de Maio de
1995 se encontra toponimicamente dividida a estrada que, desde o Largo
do Patim, se estende até às Corticeiras, freguesia do Jardim da Serra,
onde termina junto ao acesso para a Boca dos Namorados. À rua da
Igreja, com um trajecto e extensão coincidente com a margem esquerda
do adro e igreja paroquial de Nossa Senhora da Graça, segue-se a rua
Dr. António Vitorino de Castro Jorge, que a partir do lugar do
Calvário assume a denominação de rua Dr. Alberto de Araújo.
Como curiosidade
refira-se, que a toda a extensão da estrada entre o Largo do Patim e
as Corticeiras, já havia sido dado, por deliberação camarária de 3 de
Setembro de 1987, o nome do Dr. António Vitorino de Castro Jorge,
homenagem que na altura, ao que consta, não terá aceite.
No seu trajecto entre o Largo do Patim e o Calvário, este arruamento
segue à risca o traçado da antiga estrada Real 25, na sua passagem
pela freguesia do Estreito, ligando o Funchal a São Vicente.
O alargamento
da rua da igreja
O acesso automóvel, desde a denominada estrada João Gonçalves Zarco
(Estrada Regional) ao Largo do Patim, verificado a 29 de Agosto de
1920, com a inauguração da abertura rua Cónego Agostinho Gonçalves
Faria, viria a criar condições para que este meio de transporte se
pudesse estender a outras localidades da freguesia.

Chegado o automóvel ao Largo do Patim, impunha-se naturalmente fazê-lo
progredir até as zonas mais altas, não só para melhor facilitar o
escoamento e acesso de produtos, como também para melhorar o acesso
dos turistas aos pontos de maior beleza.
É nesse sentido que de acordo com o Diário da Madeira de 10 de Maio de
1921, a convite de Francisco Figueira Ferraz, importante proprietário,
haviam estado na freguesia do Estreito dias antes o Presidente da
Junta Geral, Procuradores à Junta pelo Concelho e outras
individualidades com o fim de lhes serem apresentadas algumas das mais
importantes pretensões da população. Na sequência desse convite,
acabaria o Presidente da Junta Geral, Dr. Vasco Gonçalves Marques por
prometer o estudo do alargamento da estrada que corria ao lado da
igreja paroquial e que não teria mais do que 2 metros de largura, não
permitindo o transito automóvel e ainda a concretização dos
melhoramentos mais insistentemente reclamados no ramal que no ano
anterior havia sido aberto, entre a estrada regional e o Largo do
Patim, e que se encontrar-se-ia muito provavelmente em terra.
Na sua edição de 31 de Março de 1922, o Diário de Notícias dá conta de
que o projecto da estrada nacional 25 ao sítio da igreja, na freguesia
do Estreito de Câmara de Lobos havia sido aprovado e as respectivas
obras dadas para arrematação, sendo de 31.601$57 a base de licitação.
Ao que se supõe as obras ter-se-ão iniciado pouco tempo depois, uma
vez que na sessão da Junta Geral de 5 de Julho de 1923, Manuel
Faustino de Jesus, comerciante na localidade solicita a construção de
uma levada na estrada nacional 25 ao sítio da igreja e destruída pelas
obras de alargamento da estrada.
Este alargamento envolveria não só toda a extensão da actual rua da
Igreja como também o início da actual rua Dr. António Vitorino de
Castro Jorge.
O
embelezamento da Rua
Depois de alargada, esta rua transformada numa avenida, passa a
constituir uma espécie de sala de visitas da freguesia onde eram
recebidos os excursionistas com destino à boca dos Namorados, Jardim
da Serra e Corrida, entendeu, segundo o Diário da Madeira de 7 de
Novembro de 1929, por bem, a Junta Geral, de o aformosar plantando
uma fila de carvalhos americanos. Contudo, apesar de todos terem
pegado, o vandalismo não os deixou desenvolverem-se.
Em 1935, desanimado com o insucesso da plantação de árvores, o
vereador António Prócoro de Macedo, chega mesmo a propor à Junta Geral
que mandasse retirar as cantarias que limitavam o local destinado à
sua plantação. com efeito na sua sessão de 6 de Dezembro de 1935,
Deliberou a Comissão se peça à Junta Geral para mandar retirar as
pedras de cantaria que servem de guarda aos recintos para as árvores
plantadas na estrada nacional, junto à igreja paroquial da freguesia
do Estreito, visto se ter reconhecido o insucesso das árvores ali
plantadas por diversas vezes, calcetando-se os mesmos para melhor
regularidade do pavimento da estrada.
Novas tentativas de arborização da rua foram, entretanto, levadas a
efeito, tendo na última sido plantadas nogueiras que haveriam de
resistir até 1964, altura em que devido à repavimentação e construção
de passeios para peões foram sujeitas a abate.
Aliás, as obras da década de 60 também tiveram por objectivo o
embelezamento do centro do Estreito, iniciativa que, em finais da
década de 50 vinha sendo feita nalguns dos arruamentos da vila de
Câmara de Lobos e que se estenderiam posteriormente à freguesia do
Estreito.
O pavimento feito com a chamada calçada madeirense, já em muito más
condições, é então substituído por paralelepípedos de pedra com as
respectivas juntas preenchidas por cobertura betuminosa.

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Rua da
Igreja, 1975 |
Ainda que esta
obra já estivesse prevista no plano de actividades camarárias para
1961, só no início de 1964 é que terá sido adjudicada, depois de em
1963 pelo menos quatro concursos de adjudicação terem ficado sem
candidatos e de, a Câmara ter na sua reunião de 11 de Dezembro de
1963, deliberado contornar o problema através do ajuste particular
para a sua adjudicação.
As
referências mais
importantes
Apesar da sua curta extensão, cerca de 100 metros, esta rua continua a
ser juntamente com o Largo do Patim a sala de visitas da freguesia do
Estreito. Com efeito, para além de definir o centro da freguesia, ela
constitui o acesso principal tanto para a freguesia do Jardim da
Serra, como para o núcleo populacional vulgarmente conhecido por Covão
e que tem a sede da paróquia de Nossa Senhora da Encarnação, como mais
importante ponto de referência.
O acesso ao Covão é feito por uma estrada que liga o centro da
freguesia do Estreito, a partir da Rua da Igreja, à cidade de Câmara
de Lobos e que na extensão em que atravessa ao Estreito ostenta
sucessivamente o nome de João Augusto de Ornelas e de António Prócoro
de Macedo Júnior e que na extensão em que atravessa a freguesia de
Câmara de Lobos assume o nome do Padre Manuel Juvenal Pita Ferreira.
Esta estrada começou por ser construída em 1960, a partir de Câmara de
Lobos e em 1971 a partir do Estreito, acabando depois por se
encontrarem, uma com a outra no Covão.
A ladear toda a margem esquerda da Rua da Igreja está a igreja
paroquial, encontrando-se à direita uma das mais importantes áreas
comerciais, onde, entre outros estabelecimentos se inclui dois
estabelecimentos da empresa João Gonçalves Moleiro, um dos quais
inaugurado a 7 de Dezembro de 1994; uma agência do Banco Totta &
Açores inaugurada a 22 de Setembro de 1993 e um centro comercial,
curiosamente o primeiro a ser criado no concelho de Câmara de Lobos,
aberto a 2 de Agosto de 1987 e onde entre 2 de Setembro de 1989 e 30
de Setembro de 1997 esteve instalada a rádio Girão.
É também nesta rua onde se encontra instalada a principal praça de
táxis da freguesia do Estreito.
No tempo perdeu-se aquele que terá sido o mais bonito fontenário
construído no concelho de Câmara de Lobos e que foi destruído, com a
abertura da estrada de acesso ao Covão, verificada em 1971, bem como a
casa paroquial situada em frente à igreja e destruída para dar lugar à
construção do salão paroquial e ampliação do adro, ocorrida em finais
dos anos 60. No decurso destas obras um outro fontenário de rara
beleza seria também destruído.
Da mesma forma se perdeu a casa onde pela primeira vez, na Madeira, a
espetada foi introduzida na indústria da restauração.
Com efeito, no espaço hoje ocupado pelo edifício do Centro Comercial
do Estreito, esteve primitivamente sitiado o restaurante "As Vides" e
que foi o local onde, pela mão de Francisco da Silva Freitas, a
espetada madeirense sai dos arraiais, onde era típica, para ser
transformada num prato possível de ser apreciado em qualquer
restaurante, o que aconteceu nos anos 50. É aliás por esse facto que a
freguesia do Estreito para além de ser tida como o berço da espetada,
possui os melhores e mais procurados restaurantes da especialidade,
onde se inclui naturalmente "As Vides".
A igreja
paroquial
A actual igreja paroquial com invocação a Nossa Senhora Graça,
situa-se na margem esquerda da Rua da Igreja, proximidade essa que
determinou, em 1995, a denominação deste arruamento. Segundo "O
Jornal" de 4 de Março de 1930 a sua construção teria sido ordenada por
um mandato da Fazenda Pública datado de 4 de Março de 1748. Contudo,
só começou a ser construída a 2 (ou 3) de Fevereiro de 1753, data do
lançamento e bênção da primeira pedra. A 18 (ou 14) de Janeiro de 1756
foi solenemente benzida a sua capela-mor. Por volta de 1770 estava
construída a sua nave, mas a sagração só teria lugar, muito mais
tarde, em 1814, pelo Prelado Diocesano D. Frei Joaquim de Menezes e
Atayde.
Ao longo do tempo foi, no entanto, sujeita a várias obras de restauro.
Com efeito, o Direito de 12 de Agosto de 1871 refere que a sua torre,
nesta altura corria o risco de desabar. Na sua sessão de 17 de
Novembro de 1897 a Câmara Municipal de Câmara de Lobos delibera
apresentar uma representação ao Rei solicitando a reparação do telhado
e tecto da Igreja, bem como exigindo a reparação da residência
paroquial, adjacente à igreja e que se encontrava num estado tão
miserável que nem parecia destinado a habitação. A propósito desta
petição, a "Semana Illustrada" de 11 de Setembro de 1989, dá conta de
que por informações veiculadas pelo Século de 26 de Agosto, no dia
anterior havia-se reunido o Conselho Superior de Obras Públicas e
Minas, ocupando-se, de entre outros assuntos do projecto e orçamento
de reparação da igreja matriz e casa paroquial do Estreito de Câmara
de Lobos.
A 26 de Setembro de 1937 é solenemente inaugurado o seu relógio, numa
iniciativa liderada por Ângelo de Menezes Marques, então professor
primário na freguesia e mais tarde também presidente da Câmara
Municipal de Câmara de Lobos. Importou o seu custo em aproximadamente
19.500$00 e para a sua instalação foi necessário fazer a ampliação da
torre da igreja em 13,30 metros, ou seja passando de 14,50 para 27,80
metros de altura, ascendendo por esse facto as despesas com o relógio
e torre a cerca de 60.000$00.
Relativamente à instalação do relógio, já em 1924, na sua edição de 13
de Setembro, "O Jornal", ao se referir a um importante conserto
efectuado na torre da igreja, anunciava o desejo do então pároco no
sentido de a dotar de um relógio, tendo mesmo chegado a ser nomeada
para o efeito uma Comissão.
Em 1945, importantes obras se terão realizado na igreja e casa
paroquial: os buracos da torre feitos por ocasião da sua ampliação e
colocação do relógio foram tapados e foram colocados tapassóis na casa
paroquial. Em 1949, segundo refere "O Jornal" na sua edição de 16 de
Junho, a igreja estava a ser pintada e dourada.
Na sua edição de 9 de Agosto de 1953, o "Eco do Funchal" referia-se de
forma mais pormenorizada à acção do Padre José Porfírio desde que
havia assumido a 1 de Setembro de 1943 as responsabilidades
paroquiais, como tendo dourado a capela-mor e altares laterais,
mandado picar as cantarias, construído as mesas dos Irmãos das
Confrarias de Nossa Senhora e do Senhor, renovado o reboque das
paredes que foram pintadas a óleo, adquirido novos quadros da via
sacra (provavelmente para substituir os benzidos a 25 de Fevereiro de
1906), construído uma grande sacristia, a chamada sacristia nova, e
salão paroquial no seu piso superior e tencionava dotar a igreja de
novos lustres. A este propósito, ter-se-à inaugurado por ocasião das
festas de Agosto de 1953 um grande lustre que havia sido colocado no
centro da igreja e havia sido executado pelo mestre António, natural
do Estreito, numa oferta da população do sítio do Covão.
Em finais da década de 60, a antiga casa paroquial, situada em frente
à igreja paroquial, dá lugar à ampliação do adro e à construção,
debaixo dele, de um salão paroquial.
Bibliografia:
"O Jornal" de 2 de Fevereiro de 1930.
"O Jornal" de 14 de Janeiro de 1930.
Jornal da Madeira de 15 de Agosto de 1987.
Jornal da Madeira de 14 de Dezembro de 1986.
FREITAS, Manuel. Notas sobre a instalação do relógio na torre da
Igreja e Nossa Senhora da Graça da Freguesia do Estreito de Câmara de
Lobos. Girão-Revista de Temas Culturais do Concelho de Câmara de
Lobos. Vol.1, nº2, 1º semestre de 1989.
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