Para além do
esforço empregue pelo padre António
Sousa da Costa, na construção da igreja paroquial do
Garachico, a defesa dos interesses da população era também
sua preocupação destacando-se nesse sentido, o seu esforço,
junto das entidades políticas, na construção de uma
estrada que estabelecesse a ligação entre a estrada regional
e o centro da paróquia.
Rua existente no Garachico,
freguesia do Estreito de Câmara de Lobos, ligando a estrada João
Gonçalves Zarco ao lugar da Furneira e dando acesso à igreja
paroquial do Garachico.
Ainda que seja difícil
precisar o momento exacto em que se deram os primeiros passos para a abertura
desta rua, a criação da paróquia de Nossa Senhora
do Bom Sucesso e a necessidade de dignificar a sua sede com um acesso automóvel,
constituem as referências mais importantes para esta pretensão
da população local. Por outro lado, com o início das
obras de construção do novo templo, o esforço colectivo
despendido, por parte da população, no transporte manual
dos materiais necessários, através da vereda de acesso, viria
reforçar o sentimento já existente para a necessidade de
uma estrada na localidade.
Segundo o Diário
de Notícias de 4 de Agosto de 1965, uma das grandes aspirações
do padre António de Sousa Costa, para além da erecção
da nova igreja era o da construção de uma estrada de acesso
à igreja. Distando esta 500 metros da estrada regional, o seu acesso
era feito através de um velho caminho municipal inacessível
a automóveis, o mesmo através do qual as toneladas de materiais
necessários à construção do templo foram transportados
às costas.
As primeiras referências
relativamente ao projecto destinado à construção de
uma estrada de acesso à igreja do Garachico encontramo-las na sessão
camarária de 13 de Janeiro de 1965 ao ser presente o projecto da
estrada municipal do Garachico - Furneira numa extensão de 1.850
metros mas que foi devolvido ao seu autor afim de que pudesse ser considerado
o ramal de acesso à igreja do Garachico.
Contudo, segundo adiantava
o Diário de Notícias de 4 de Agosto de 1965, o início
das respectivas obras só estariam previstas para 1968.
Ainda segundo este mesmo
orgão de informação, esta estrada que deveria ligar
a estrada regional, na zona do Garachico ao Jardim da Serra, teria uma
extensão de 4,5 km e deveria ser feita em duas fases: a primeira
até à Furneira, permitindo através deste troço
o acesso à igreja e, a segunda, entre a Furneira e o Jardim da Serra,
fase esta que viria posteriormente a ser abandonada. Ainda que, inicialmente,
esta estrada estivesse prevista para chegar ao Jardim da Serra, mais precisamente
para se ligar com a estrada municipal 541 (Romeiras), o que nos é
dado supôr tanto por esta informação veiculada pelo
Diário de Notícias de 4 de Agosto de 1965, como por documentos
posteriores datados de 1982 e contidos no processo camarário de
adjudicação das obras da sua construção, a
verdade é que acabaria por terminar na Furneira.
Apesar dos esforços
do padre António de Sousa Costa, primeiro pároco do Garachico
e seu principal impulsionador, a construção desta estrada
que viria posteriormente a assumir o seu nome, arrastar-se-ia ao longo
de 18 anos, período contabilizado entre o momento da 1ª adjudicação
da obra, ocorrida a 8 de Julho de 1970, até à sua completa
conclusão e inauguração verificada em 6 de Julho de
1988.
A escola primária
e o fontenário
Para além do seu
esforço junto das entidades políticas na construção
da estrada que estabelecesse a ligação entre a estrada regional
e o centro da paróquia, haverá a destacar ainda a sua intervenção
no sentido de acelerar a construção do edifício escolar
da localidade, que terá entrado em funcionamento, provavelmente
em Outubro de 1968, ainda que já em 1965 estivesse em obras e finalmente,
a sua intervenção na construção de um marco
fontenário por parte da Câmara Municipal de Câmara de
Lobos, junto à igreja paroquial, numa altura em que não havia
distribuição de água ao domicílio.
A homenagem ao Padre
Sousa
A 17 de Junho de 1992,
a Câmara Municipal de Câmara de Lobos delibera dar o nome do
Padre António de Sousa Costa, primeiro pároco da paróquia
do Garachico e que havia sido não só o principal impulsionador
da construção desta estrada como também um acérrimo
defensor dos interesses da população local. De acordo com
a acta da respectiva sessão camarária
foi deliberado,
por unanimidade, prestar homenagem póstuma ao Rev. Padre António
Sousa da Costa, ex-pároco do paróquia do Garachico, atribuindo
o seu nome à estrada municipal daquela localidade, que tem o seu
início na estrada regional, como prova do reconhecimento do que
pela mesma se empenhou e da qual foi um grande impulsionador, bem como
do mito que fez, em prol dos seus paroquianos, em colaboração
com a Câmara.
A 9 de Agosto de 1992,
teve lugar a sessão solene de colocação das respectivas
placas toponímicas.
A
capela de N. S. do Bom Sucesso
Nesta rua, a referência
mais importante é a igreja paroquial do Garachico, construída
no local onde antes existia uma capela com a invocação de
Nossa Senhora do Bom Sucesso.
Esta capela foi construída
no sítio do Garachico, freguesia do Estreito de Câmara de
Lobos na sua partilha com a de Câmara de Lobos, nos princípios
do século XVII, por Manuel João Ferreira, proprietário
na localidade e destinada à prestação de serviços
religiosos à comunidade, por parte de seu filho Francisco Luís
Ferreira que havia sido ordenado sacerdote.
Contudo, posteriormente,
por falta deste, a ermida ficou sem serviço e em poucos anos estava
em ruínas.
Em 1778, conforme alvará
da Câmara Eclesiástica do Funchal, datado de 10 de Junho desse
ano, Caetano Luís Faria procedeu à sua reedificação,
dotando-a com a importância de quatro mil reis em cada ano para
que sempre ande asseada, reparada e ornamentada.
A sua benção
ocorreu no dia 14 de Junho de 1778, tendo sido presidida pelo padre Manuel
Borges da Alemanha, pároco do Estreito de Câmara de Lobos.
O facto dos actos religiosos
aí realizados, sob responsabilidade do pároco do Estreito,
serem muito concorridos por pessoas não só do Garachico e
da Furneira, paroquianos do Estreito, mas também dos vários
sítios vizinhos, pertencentes à freguesia de Câmara
de Lobos, fez com que o pároco de Câmara de Lobos, não
satisfeito com este facto, levantasse a questão da localização
da capela e da sua jurisdição. Em consequência disso,
no dia 14 de Julho de 1807, foi efectuada ao local, uma vistoria presidida
pelo Dr. Juiz do Tribunal Eclesiástico e onde após ouvidas
as pessoas mais antigas da localidade, foi declarada a capela como ficando
na partilha das duas freguesias - Estreito e Câmara de Lobos - mas
que por ter sido construída em terra da freguesia do Estreito, deveria
continuar filial da matriz de Nossa Senhora da Graça desta freguesia.
Aliás desta situação
de certa rivalidade ou conflito que viria a perdurar no tempo, dá
conta o Diário da Madeira de 15 de Agosto de 1929, ao dizer que
ela havia sido edificada entre o Estreito e a freguesia de Câmara
de Lobos, sendo o altar no Estreito e o corpo em Câmara de Lobos
e que por tal facto, desde tempos imemoráveis haviam pretensões
mal cabidas entre os habitantes do Garachico de Dentro (Estreito) e Garachico
de Fora (Câmara de Lobos).
A esta capela encontra-se
associado o assassinato do padre Joaquim André dos Santos Passos,
ocorrido no dia 22 de Maio de 1925 e que apesar de ser capelão-cantor
da Sé, onde se encontrava colocado à data da sua morte, aqui
frequentemente vinha celebrar missa. Naquele dia após a missa dominical
foi barbaramente assassinado por um indivíduo, a quem havia recusado
casar, em segundas núpcias, pelo facto da sua primeira mulher, com
quem havia casado segundo o ritual da igreja católica, ainda se
encontrar viva.
A criação
da paróquia
Criada por D. David de
Sousa, bispo do Funchal, por Decreto de 24 de Novembro de 1960, com a invocação
a Nossa Senhora do Bom Sucesso. Foi seu primeiro pároco, o padre
António de Sousa Costa, nomeado para o efeito por provimento de
16 de Dezembro de 1960, tendo a sua posse ocorrido em Janeiro de 1961.
A
construção da casa e igreja paroquial
Após a criação
da paróquia, ficou a sua sede provisoriamente instalada na capela
de Nossa Senhora do Bom Sucesso, existente no local.
Em 19 de Março
de 1962 teve início o desaterro para a casa paroquial, tendo sido
iniciadas as obras a 15 de Julho desse ano.
Perante a necessidade
de um templo mais amplo e adaptado às necessidades de uma sede paroquial,
foi esta capela destruída para dar lugar à construção
de uma nova igreja, segundo um projecto concebido pelo Eng. António
Gonçalves da Costa, técnico das obras da Junta Geral. José
de Gouveia, pintor-decorador foi o autor da pintura dos vitrais da Anunciação,
Visitação, Nascimento, Purificação e Assunção
existentes na Igreja.
As obras de erecção
deste novo templo iniciaram-se, segundo o Diário de Notícias
de 4 de Agosto de 1965, a 29 de Junho de 1963 ou, segundo o Jornal da Madeira
de 6 de Novembro de 1966, a 22 de Setembro de 1963.
Entretanto, as actividades
paroquiais iam-se desenvolvendo num salão paroquial cuja construção
tinha sido iniciada antes da criação da paróquia,
pelo padre José Porfírio Rodrigues Figueira, pároco
da paróquia de Nossa Senhora da Graça e ali capelão.
Para além do terreno
ocupado pela antiga capela, substancial parte dos terrenos necessários
à construção da igreja e casa paroquial seriam doados
por D. Eugénia Freitas Betencourt e por Augusta Amélia Gonçalves,
viúva de Manuel Gonçalves de Freitas.
Três anos depois
do início das obras, a 6 de Novembro de 1966, o templo seria solenemente
consagrado e dedicado a Nossa Senhora do Bom Sucesso.
Posteriormente, seria
construída a sua torre e, em 9 de Agosto de 1992, já depois
da morte do padre António Sousa da Costa, procedia-se à inauguração
do relógio oferecido por Manuel Ferreira, emigrado no Brasil, e
dos sinos oferecidos por António Ramiro Ferreira emigrado na Venezuela.
Para poder levar a cabo
toda esta grandiosa obra, o padre António Sousa da Costa teve de
enfrentar as mais sérias dificuldades financeiras. Não podendo
encontrar junto dos seus paroquianos, na sua maioria de fracos recursos,
a totalidade dos quantitativos financeiros necessários para iniciar
as obras, viu-se obrigado não só a recorrer a adiantamentos
utilizando bens pessoais, como a procurar junto da comunidade de emigrantes
o apoio necessário. Desta forma e com esse objectivo deslocou-se
em Fevereiro de 1960 à Venezuela, em 1961 à áfrica
do Sul, em 1969 novamente à Venezuela e em 1981 aos Estados Unidos
da América, onde angariou alguns dos fundos necessários.
Os materiais necessários
à obra de construção da igreja foram todos generosamente
transportados às costas desde a estrada regional até ao
local das obras por gente válida da localidade, que o faziam quer
aos fins de semana, quer pela noite dentro depois do seu trabalho.
Ainda que a generalidade
da população tivesse colaborado com bens materiais, o Diário
de Notícias de 4 de Agosto de 1965 destaca apoios como: oferta do
telhado, que na altura importou em 27.500$00, pela família de Luís
Figueira da Silva e João Figueira Ferraz; oferta da imagens
de Nossa Senhora das Dores por João Gonçalves Freitas e família
e a oferta da imagem do Senhor dos Passos, por Francisco Figueira Ferraz.