Festa das Cerejas
A cereja é um fruto
cuja cultura predomina na zona alta da freguesia do Jardim da Serra, ainda
que outrora grandes quantidades fossem também encontradas tanto
na freguesia do Curral das Freiras como da Serra de Água.
Dada a localização
da sua produção, quase que exclusiva na freguesia do Jardim
da Serra e ao aspecto que assumem as suas arvores, quer na fase de floração,
quer na fase em que o seu fruto já se encontra maduro, encontram-se
associadas à cereja duas importantes iniciativas recreativo-culturais
e promocionais desta freguesia: a festa das cerejas, criada em 1954 e o
Cross das Cerejeiras em Flor, cuja primeira edição ocorreu
em 1990.
Naturalmente que antes
de 1954 já a cereja e as cerejeiras eram motivo de notícia
na imprensa e de atracção para numerosos forasteiros. A este
propósito, o correspondente no Estreito de Câmara de Lobos,
de "O Jornal" em 16 de Abril de 1949 dá conta da azáfama
e movimentação vivida em torno da produção
desse ano, ao se referir que já começaram a passar à
nossa porta às primeiras horas da madrugada, ranchos alegres de
lavradores, que do alto desta paróquia, do Jardim da Serra, a cantar
e a trovar descem ao mercado, vender estes preciosos frutos regionais.
Este ano, dizem-nos que há muitas, mas cá por baixo ainda
não apareceram porque por ora o preço ainda se mantém
alto, é para pagar dívidas; só no fim é que
vêem as ofertas... Em breve atraídos pela beleza do espectáculo
das cerejeiras vermelhas de frutos maduros, aparecerão por cá
por cima numerosas excursões do Funchal.
Ainda que, desde longa
data, as pessoas, por tradição, se deslocassem no mês
de Junho às zonas altas do Estreito para contemplarem as cerejeiras
carregadas de cerejas, só a partir de 1954, coincidindo, de certa
forma com a acessibilidade automóvel, a esta localidade, onde estas
árvores possuem o seu viveiro natural, é que as cerejas se
viriam a assumir verdadeiramente como cartaz promocional.
Com efeito, neste ano
de 1954, por iniciativa do Dr. Castro Jorge, é organizada uma festa,
na altura denominada de “Dia das Cerejas”, e onde, para além de
um desfile alegórico, havia também espaço para a actuação
de grupos folclóricos, barracas com comes e bebes e, como não
podia deixar de ser, o bom vinho e a espetada.
Estava assim criada a
festa das cerejas, que depois da “festa das vindimas” é a mais antiga
festa de frutos da Madeira.
Durante os primeiros anos,
ela dependeu única e exclusivamente da iniciativa privada e, em
determinada altura, constituiu um subterfúgio legal para que os
comerciantes de carne, a pudessem comercializar fora dos talhos.
Para o efeito, chegados
ao momento em que as cerejas estavam maduras, alguns comerciantes tiravam
e pagavam entre si as despesas inerentes às licenças de arraial
e, desta forma, tinha lugar mais um arraial, mais uma festa das cerejas
e, consequentemente a autorização para matar e comercializar
carne de vaca.
É claro que esta
formula de realização da festa das cerejas, para além
de, na falta de acordo ou interesse dos comerciantes, muitas vezes não
se concretizar, não permitia dar à festividade a dimensão
necessária.
Depois de 1960, com a
criação da paróquia de São Tiago, cuja área
de influência abrange a hoje freguesia do Jardim da Serra, onde a
produção de cerejas é quase que exclusiva e, com o
assumir de funções à frente da paróquia por
parte do padre Mário Tavares, a festa das cerejas ganha outra dimensão.
Com efeito, o padre Mário
Tavares não só assumiria a organização da festa
das cerejas, como, associá-la-ia a uma festividade religiosa, juntando
desta forma o útil ao agradável.
Através da festividade
religiosa são conseguidas as infra-estruturas para o suporte da
festa das cerejas e, com o impacto e a importância que tinha a festa
das cerejas, valorizada ficaria também a festa religiosa e a localidade.
Contudo, a situação
ainda não era a ideal e havia necessidade de dar maior projecção
a este evento, facto só possível, a exemplo de outras festas
de frutos, mediante a colaboração da Câmara e do Governo
Regional.
É assim que, a
partir de 1990 se começam a ouvir vozes incentivando tanto a Câmara
como o Governo Regional a uma maior intervenção nesta festa.
Por outro lado, com o
mesmo objectivo e porque noutras localidades, outras festas de frutos eram
organizadas pelas respectivas Casas do Povo, a Junta de Freguesia do Estreito
de Câmara de Lobos, numa altura em que o Jardim da Serra ainda não
havia sido elevado à categoria de freguesia, decide liderar o processo
conducente à reactivação da antiga casa do Povo Local.
Depois de reactivada,
a Casa do Povo do Estreito viria então a assumir a responsabilidade
pela organização da festa das cerejas, responsabilidade que,
com a criação, em 1996, da freguesia do Jardim da Serra passaria,
por sua vez, para a respectiva Casa do Povo .