Festas de Agosto no Estreito, anos 50

Denominação dada às festividades religiosas quer em honra de Nossa Senhora da Graça, quer em honra do Santíssimo Sacramento e que têm lugar no dia 15 de Agosto e domingo seguinte, na freguesia do Estreito de Câmara de Lobos.
Segundo o Eco do Funchal de 4 de Agosto de 1954 são estas festas as maiores festas da freguesia preparadas com novenas que começam no dia 1 de Agosto. Estas festas marcam para o povo o principal ponto de referência do ano. Todos ricos e pobres para elas se preparam com roupas novas, sapatos, fatos, etc. de modo que as lojas cá da terra não têm outro mês que se lhe iguale em movimento e gaveta cheia.
Com efeito, na freguesia do Estreito de Câmara de Lobos, as festas de Agosto eram sempre tradicionalmente celebradas com grande alvoroço e desusada alegria que aproveita a ocasião para estrear fatos novos, calçado novo etc.
Em casa era costume matar-se uma cabra para a família. Nas semanas precedentes, alfaiates, costureira, sapateiros, todos não tinham mãos a medir. Todos preparam as festas e quando elas chegam, todos as celebram a seu modo, ouvindo e deliciando-se com os toques das músicas, com discantos, com danças, vinho, foguetes  .
Em vésperas de mais umas festas de Agosto, o correspondente do Jornal da Madeira no Estreito de Câmara de Lobos, na edição de 15 de Agosto de 1925 ao referir-se a estas festas diz que  parece respirar-se já um ambiente de festa tanto dentro como fora da igreja.
Pelos caminhos cruzam-se homens e mulheres curvados ao peso de alvacentos sacos cheios de grão, que caminham em direcção ao moinho, onde o afável moleiro aguarda a chegada do novo cereal e inquire a cada freguês qual o produto de suas colheitas, esperando nos seus bons desejos resposta para uma felicitação, enquanto a activa moleira varre apressada as prateleiras que hão-de suster o grão, porque na ribeira sob a vigilância duma sua filha a esperam as colchas que pretende tornar de neve para enfeite dos seus leitos nos próximos dias de festa. As raparigas alegres vêmo-las como subtis borboletas esvoaçando de casa à loja, desta à costureira onde será confeccionado o agarrido blusão que vão estrear nestes dias, por ventura oferta de sua mãe como prémio dos cuidados e desvelos dispensados a seus pequeninos irmãos. O jovem aldeão no assobiar as arraias do seu acanhado repertório se nota estar alegre, porque a vaca do casal cuja engorda tanto suor e sacrifício lhe custou, será levada ao matadouro e com o produto dela seu pai num rasgo de reconhecimento e generosidade fraternais vai pagar-lhe o novo fato e as insídias botas com que irá apresentar-se às festas. Está contente o pequeno campónio porque a cabrinha de há tanto é objecto de suas canseiras e das quotidianas recomendações do pai, quando ao alvorecer do dia saia para o amanho das suas terras, será morta para constituir nesses dias, a principal iguaria no banquete de família. Anima-se o velho porque a sua prole dispersa dentro e fora da freguesia aproximar-se-á a beijar-lhe a rugosa mão e a suavizar-lhe com o seu carinho a sentida lágrima da sua fundente saudade. Finalmente tudo se anima, tudo se agita em relação à festa: até o forno, esse compartimento sombrio e triste das nossas moradas vai despojar-se do negro manto em que se envolve desde o natal e vestirá de gala cobrindo-se com o rubro manto que lhe dará o fogo sob cuja acção será cozido o nosso saboroso pão de rale e o almejado brindeiro da criancinha tantas vezes prometido no colo de sua mãe que sob um tiroteio de beijos lhe assegura que vai tê-lo em breve por ocasião da grande festa de Nossa Senhora.

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